Nas leituras litúrgicas do décimo quarto Domingo do Tempo Comum prevalece a temática do “envio”: Deus escolhe pessoas, confia-lhes uma missão e envia-as ao mundo e aos homens. Esses “enviados” atuam em nome de Deus e são chamados a testemunhar, no meio dos seus irmãos, o projeto que Deus tem para os homens e para o mundo.
O Evangelho – Lc 10,1-12.17-20 – conta que Jesus, quando se dirigia para Jerusalém, enviou setenta e dois discípulos à sua frente, “a todas as cidades e lugares aonde Ele devia de ir”. A missão desses discípulos é a mesma de Jesus: propor a Boa Nova do Reino de Deus e “curar” todos os que estão feridos pela dureza da vida ou pela maldade dos homens. Pela ação dos “enviados” de Jesus, concretiza-se a vitória do Reino de Deus sobre tudo aquilo que oprime e escraviza os seres humanos. Além dos doze apóstolos, Jesus envia outros discípulos à sua frente. Ele envia setenta e dois discípulos, para lembrar os setenta e dois líderes de Israel – Nm 11,24-30 – que receberam o dom da profecia. Jesus os chama porque “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10, 2a). Nesse envio, dá-lhes algumas recomendações: serem mansos no meio de lobos, assumir atitudes de pobreza e simplicidade, ser portadores da paz, contentar-se com o que lhes oferecerem, dar atenção especial aos necessitados. O objetivo principal é o anúncio do Reino de Deus.
Na primeira leitura – Is 66,10-14c – um profeta anônimo, enviado aos desanimados habitantes de Jerusalém, proclama o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um “enviado” de Deus, através do qual Deus consola os seus filhos, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar. Esta leitura completa o Evangelho, que nos leva a perceber que o Reino de Deus não se concretiza em um único dia, mas exige tempo, esforço e perseverança em Deus. O povo está de volta do exílio da Babilônia, e agora a tarefa é reconstruir o templo e a cidade e organizar a comunidade. É um sentimento de otimismo e alegria que o profeta procura transmitir ao povo, diante dessa tarefa nada fácil. Oxalá nossas cidades vivessem em clima de paz e de alegria. É preciso naquele tempo e hoje superar a descrença e a falta de fé.
Na segunda leitura – Gl 6,14-18 – o apóstolo Paulo indica, a partir da sua própria experiência, qual deve ser a primeira preocupação do “enviado” de Jesus. No centro do testemunho de qualquer “enviado” deve estar a cruz de Jesus: a maneira como Ele amou, até ao extremo de dar a vida por todos. Paulo, no que lhe diz respeito, tem procurado concretizar essa missão. Provam-no as feridas que recebeu por causa do seu serviço ao Evangelho. Concluindo a carta aos Gálatas, São Paulo reflete sobre seu objetivo: o cristão deve gloriar-se na cruz de Cristo, pois ela é a fonte de salvação. O apóstolo declara que o motivo de sua glória não consiste na observância rigorosa das leis, mas em Cristo crucificado.
A alegria do Evangelho não consiste no sucesso, e menos ainda em considerar-se parte de um grupo que monopoliza a continuidade da missão do Mestre. A alegria cristã consiste em participara do Reinado de Deus com ações de bondade, justiça e paz, feitas a todos indistintamente, inclusive aos que nos rejeitam, e também em meio ao fracasso. Sejamos, portanto, como discípulos de Jesus, anunciadores da salvação de Deus. Anunciemos a Boa-Nova do Reino. É preciso acreditar que o Senhor Jesus continua a visitar seu povo, renovando cada dia, no cotidiano, a sua vida.
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
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