A liturgia do primeiro Domingo do Advento convida-nos a encarar a nossa caminhada pela história com a certeza de que “o Senhor vem”.
Ao iniciarmos o Tempo do Avento, tempo da presença e da esperança no Senhor, a Palavra nos chama à vigilância. Estar vigilantes é estar atentos aos valores do Reino, que são os valores do Evangelho, procurando vivê-los na realidade da vida que nos cerca, principalmente a justiça, a solidariedade e a paz. O Senhor nos faça perseverantes na escuta e na vivência de sua Palavra e de sua misericórdia.
Neste trajeto do Advento, somos convidados a nos deixarmos moldar por Deus, como barro nas mãos do oleiro, sempre vigilantes, pois o Senhor vem nos visitar. Abramos a nossa mente e o coração para acolher a graça e a paz que vêm da parte do Pai, o qual, nesta liturgia, nos dirige sua face luminosa e nos socorre em nossas fraquezas.
A liturgia apresenta também indicações concretas acerca da forma como devemos viver enquanto esperamos o Senhor.
A primeira leitura – Is 63,16b-17.19b;64,2b-7 – é um apelo dramático a Deus que é “pai” e “redentor”, no sentido de vir mais uma vez ao encontro de Israel para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração novo. O profeta está absolutamente convicto de que a essência de Deus é amor e misericórdia; e esses atributos de Deus são a garantia da sua intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus. Na volta do exílio, Israel encontra dificuldade para recomeçar a vida, e o profeta, nessa oração, reconhece a fraqueza e a infidelidade do povo. Ao mesmo tempo, invoca a Deus para que tenha misericórdia dos seus filhos e filhas, por causa da situação em que estão vivendo. A invocação do Senhor como “pai redentor” revela o renascer da esperança de quem se encontra em desolação e nos recorda que Jesus pertence à linhagem profética. Isaías nos mostra que Deus rasgou os céus, desceu até nós e caminha conosco.
O Evangelho – Mc 13,33-37 – convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza de que “o Senhor vem”. Propõe que esse tempo de espera seja um tempo de “vigilância”, isto é, um tempo de compromisso ativo e efetivo com a construção do Reino. O capítulo 13 de São Marcos é desenvolvido com base em duas perguntas dos discípulos acerca da hora e dos sinais do fim. O texto de hoje procura responder ao “quando”. A comunidade não deve se preocupar com o momento em que se darão os eventos anunciados.
O importante é que ela se mantenha em ativa vigilância – porque o tempo é incerto – e não abandone seus compromissos. Segundo o evangelista, a preocupação não deve ser com o futuro, e sim com as opções que os cristãos devem fazer no tempo presente.
A segunda leitura – 1Cor 1,3-9 – mostra como Deus Se faz presente na história e na vida de uma comunidade crente, através dos dons e carismas que gratuitamente derrama sobre o seu Povo. Sugere também aos batizados que se mantenham atentos e vigilantes, a fim de acolherem os dons de Deus. São Paulo dá graças por aquilo que Deus operou na comunidade e manifesta a alegria de vê-la proceder segundo a graça recebida. Ele convida a comunidade, rica em dons e serviços, a caminhar confiante em direção à comunhão plena com Jesus Cristo.
Iniciamos o tempo do Advento, que nos conduz ao Natal. O Advento tem três dimensões: passado, futuro e presente. Serve para purificar a esperança e nos preparar para o encontro definitivo com o Senhor, que já veio, mas voltará. Ele vem todos os dias e em todos os momentos no nosso coração.
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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