A liturgia do 4.º Domingo da Quaresma coloca-nos diante do projeto salvador de Deus para o mundo e para os homens: é uma iniciativa de Deus que, independentemente dos nossos méritos, nos oferece a Vida eterna. Cada um de nós tem de decidir como acolhe essa oferta e que resposta lhe dá. A nossa resposta deve ser levada na alegria, marca essencial do Evangelho e deste Domingo da Quaresma, chamado o “Domingo da Alegria”.
A primeira leitura – 2Cr 36,14-16.19-23 – avisa que, quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de egoísmo e de autossuficiência, está a construir um futuro de dor e de morte. Mas garante, por outro lado, que Deus nunca desiste dos seus filhos: Ele dá-lhes sempre a possibilidade de reconstruir a vida, de começar de novo.
A segunda leitura – Ef 2,4-10 – diz-nos que, apesar da nossa condição de fragilidade e de pecado, Deus nos ofereceu, em Cristo, a Vida e a salvação. Não o fez em resultado dos nossos merecimentos; foi uma oferta totalmente gratuita, que resulta do amor que nos tem.
No Evangelho – Jo 3,14-21 –, João apresenta, em palavras do próprio Jesus, o projeto de salvação de Deus: por puro amor, Deus enviou ao nosso encontro o seu Filho Unigênito, que veio oferecer-nos a salvação. Quem “acreditar” em Jesus e aprender com Ele a lição do amor até ao extremo, nascerá para uma Vida nova, para a Vida plena e definitiva.
O Evangelho de hoje narra o encontro entre Jesus e Nicodemos, e o trecho tata do “projeto divino de salvação”. Nicodemos era um fariseu respeitado e instruído na Lei de Deus – Jo 7,50-52 –. Ele sentiu a necessidade de buscar a orientação de Jesus, reconhecendo-o como um mestre vindo de Deus. O encontro se deu à noite. Para São João, o ambiente noturno é símbolo da dúvida, do pecado e até da morte. Nicodemos tem dúvidas e deseja iluminá-las. A escuridão da noite pode ser interpretada também como a treva espiritual que, por vezes, paira sobre a humanidade. Nicodemos, apesar de sua posição e conhecimento religioso, sentiu a necessidade de ir além das tradições estabelecidas e buscar compreender com profundidade o dom divino da salvação. Nesse diálogo, destaca-se o dom do amor incondicional de Deus. Jesus fala sobre o amor divino pelo mundo e sobre o sacrifício do Filho para a salvação da humanidade. Tal mensagem revela a compaixão de Deus e a oferta da redenção a todos.
Aprendemos com Nicodemos a humildade e a disposição de ouvir o Senhor Jesus, de ir ao seu encontro pela Eucaristia, reconhecendo a nossa própria falta de compreensão dos mistérios sagrados, nos abrindo para a graça de Deus.
Vamos romper as formalidades religiosas e os ritualismos tradicionalistas e abrir o nosso coração e a nossa mente para uma transformação interior que vem de Jesus, pela comunhão com Deus e a vivência da vida nova, no amor fraterno, na graça e na compaixão.
Deus nos enviou o seu Filho, que nos alcançou a graça da vida em plenitude e da salvação. A caminho da Páscoa, aproximemo-nos da luz de Jesus, de modo que Ele nos inspire a desfazer discórdias e efetivar a amizade social entre os irmãos e irmãs. Quaresma é este tempo favorável de abertura do nosso coração, rasgando toda a hipocrisia e clericalismo, e buscando a misericórdia divina. Que nossos gestos, palavras, atos e atitudes sejam inspirados por Jesus Cristo. Que opta por Cristo e pelo seu Evangelho será salvo, porque “Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por Ele!”. Só o amor ao Deus no próximo abre as pontes deste mundo para nos dar acesso ao céu!
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
Comentários
Postar um comentário