Queridos irmãos e irmãs,
Hoje, celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, e
somos chamados a contemplar a cruz de Cristo não apenas como um instrumento de
sofrimento e morte, mas como o sinal máximo de amor, redenção e vitória.
Na primeira leitura do livro dos Números (Nm 21, 4b-9),
o povo de Israel, após murmurar contra Deus e contra Moisés no deserto, é
atacado por serpentes venenosas. O povo, reconhecendo seu pecado, pede a
intercessão de Moisés, e Deus manda que ele faça uma serpente de bronze e a
levante. "Todo aquele que for mordido e olhar para ela, viverá"
(Nm 21, 9). Esse gesto, aparentemente simples, nos prepara para entender o
mistério da cruz. A serpente de bronze, erguida no deserto, prefigura a cruz de
Cristo, onde, ao olharmos para Ele, encontramos a cura e a salvação para nossas
almas.
A cruz, portanto, não é apenas um símbolo de
sofrimento, mas o lugar onde o amor de Deus se manifesta de forma plena e
eficaz. Como Jesus nos revela no Evangelho de João (Jo 3, 13-17): "E
como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do
Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crer tenha a vida
eterna" (Jo 3, 14-15). Jesus deixa claro que a sua elevação na cruz é
o meio pelo qual o Pai oferece a salvação ao mundo. "Deus amou tanto o
mundo, que deu o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas
tenha a vida eterna" (Jo 3, 16).
A cruz, assim, se torna o ponto central da nossa fé. É
na cruz que Deus revela o seu imenso amor pela humanidade, entregando seu
próprio Filho para nos resgatar. Não estamos falando de um amor superficial,
mas de um amor que se doa até o extremo. Cristo abraça a cruz por nós e, nela,
reconcilia a humanidade com Deus.
Na segunda leitura da Carta aos Filipenses (Fl 2,
6-11), o apóstolo Paulo nos convida a meditar sobre o mistério da encarnação e
da redenção de Cristo. Ele, "subsistindo na condição de Deus, não se
apegou ciosamente à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo e tornando-se semelhante aos homens"
(Fl 2, 6-7). Aqui, Paulo ressalta a humildade de Cristo, que aceitou a condição
humana, tornando-se obediente "até a morte, e morte de cruz" (Fl
2, 8). Por essa obediência, Deus o exaltou soberanamente, dando-lhe "o
nome que está acima de todo nome" (Fl 2, 9), de modo que todos os
joelhos se dobrem diante de Jesus Cristo, Senhor.
A cruz, que aos olhos do mundo parece um escândalo e
uma loucura, é, na verdade, o caminho da glorificação. Cristo se humilhou até a
cruz, e por isso foi exaltado. Este é o grande paradoxo da fé cristã: a
exaltação vem através da humildade e do sacrifício. A cruz, símbolo de vergonha
no mundo antigo, é transformada em símbolo de vitória pela ressurreição de
Cristo.
Hoje, ao celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, somos
chamados a refletir sobre o nosso próprio relacionamento com a cruz. Como
cristãos, todos nós somos convidados a carregar a nossa cruz, seguindo os
passos de Jesus. Muitas vezes, tentamos fugir ou nos revoltamos diante do
sofrimento. No entanto, a cruz de Cristo nos ensina que o sofrimento, quando
assumido com amor e fé, tem o poder de transformar e redimir.
Ao olharmos para a cruz, vemos não apenas o sofrimento
de Cristo, mas também o seu amor infinito por nós. A cruz nos lembra que, em
nossas dificuldades e provações, não estamos sozinhos. Cristo, que passou pela
cruz e venceu a morte, caminha conosco em cada passo de nossa jornada.
Que possamos, à luz dessa celebração, aprender a
carregar nossas cruzes com fé e esperança, confiando que, assim como Cristo foi
exaltado, também nós, em união com Ele, seremos exaltados no final de nossa
jornada. A cruz, para o cristão, não é fim, mas começo de uma nova vida. É nela
que encontramos a força para continuar, sabendo que, depois da cruz, vem a
ressurreição.
Amém
+Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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