Amados irmãos e irmãs, hoje celebramos com grande alegria a Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. É uma festa que nos convida a olhar com amor e devoção para Maria, Mãe de Jesus, e a reconhecer nela uma poderosa intercessora junto a Deus, assim como um exemplo de fé, humildade e serviço.
O Evangelho de hoje, retirado de João 2,1-11, nos apresenta o milagre de Jesus nas Bodas de Caná, seu primeiro sinal público. Naquele casamento, quando o vinho acabou, Maria, sempre atenta às necessidades dos outros, percebe a situação e intercede junto a seu Filho, dizendo: “Eles não têm mais vinho.” (João 2,3). Jesus responde, mas Maria, confiante, diz aos servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” (João 2,5). Nesse simples diálogo, vemos duas grandes verdades: a intercessão de Maria e a sua confiança total no poder de Jesus. Ela não impõe, não força, mas confia e deixa que Jesus realize o que é melhor.
Essa confiança de Maria não é um ato isolado. Desde o início, Maria foi escolhida para uma missão especial. No Evangelho de Lucas 1,38, ela responde ao anjo Gabriel com uma humildade exemplar: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.” Com essa resposta, Maria demonstra uma fé plena e uma entrega total à vontade de Deus. Ela não sabia exatamente o que viria pela frente, mas sua confiança em Deus era maior que qualquer incerteza.
A oração do Magnificat (Lucas 1,46-55) também revela o coração de Maria. Ela proclama: “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus, meu Salvador.” (Lucas 1,46-47). Nesta oração, Maria exalta a justiça de Deus, que “derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.” (Lucas 1,52). Essa visão da Mãe de Deus nos mostra que ela não apenas vive para Deus, mas também está profundamente conectada com os pobres e marginalizados, sendo um exemplo de cuidado para com os necessitados.
Essa dimensão de Maria como protetora dos pobres se revela de forma ainda mais forte na história de Nossa Senhora Aparecida. Quando a imagem foi encontrada por pescadores no Rio Paraíba do Sul, em 1717, o Brasil vivia tempos de opressão, com a escravidão e a desigualdade social marcando a vida do povo. Desde então, a devoção à Aparecida se tornou um sinal de esperança, especialmente para os mais humildes. O próprio Cristo nos ensina
em Mateus 25,40: “Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.” Maria, que foi mãe de um Deus feito pobre, nos lembra de nosso dever de cuidar dos mais fracos e necessitados.
Queridos irmãos, celebrar Nossa Senhora Aparecida não pode ser apenas um ato de devoção sentimental. Ela nos ensina a viver como ela viveu: atentos às necessidades dos outros e confiantes na providência divina. Maria nos chama a sermos intercessores, como ela, a sermos servos de Deus no cuidado para com o próximo. Assim como ela levou os pedidos dos noivos em Caná a Jesus, devemos levar ao Senhor as angústias e sofrimentos de nosso povo, especialmente os mais pobres, os doentes e os marginalizados.
Neste dia especial, recordemos também as palavras de Jesus na cruz, quando Ele nos deu Maria como nossa Mãe: “Mulher, eis aí teu filho. […] Eis aí tua mãe.” (João 19,26-27). Ao aceitar Maria como nossa Mãe, nós também somos chamados a seguir seu exemplo de fé, obediência e serviço. Sob o manto de Nossa Senhora Aparecida, somos convidados a viver as palavras de São Paulo em Colossenses 3,12: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, de coração compassivo, bondade, humildade, mansidão e paciência.”
Que, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, possamos ser cada vez mais testemunhas do amor de Cristo, fazendo tudo o que Ele nos disser, e levando esperança a todos os corações aflitos. Que Maria continue a nos guiar e proteger, agora e sempre. Amém.
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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