Maria Santíssima é a digna habitação preparada pelo Pai para a Encarnação do Filho Unigênito, uma vez que, desde sua concepção, Maria foi preservada da mancha do pecado original. As leituras de hoje rezam este mistério. Na verdade, entre o texto do livro de Gênesis e o Evangelho de São Lucas, há a expressão de uma antítese.
Maria, a Imaculada Conceição, vai nos preparando, dentro do Advento, na tônica mais intensa do caminho de preparação para o Natal de Jesus, o “Deus conosco”, que não vem ao mundo para ser servido, mas para servir e olhar com carinho especialmente os pobres, os sofredores, os marginalizados, os doentes, os migrantes, os presos, os que estão nos asilos e todos os descartados da sociedade.
Na segunda leitura – Ef 1,3-6.11-12 – Paulo reflete sobre “o mistério”, o projeto de Deus para o mundo e para os homens. Esse projeto, inscrito desde sempre na mente do próprio Deus, foi-nos revelado por Jesus Cristo. Com a sua vida, as suas palavras, os seus gestos, o seu amor até ao extremo, Cristo disse-nos como devíamos viver para encontrar vida em plenitude. Cada um de nós terá de fazer a sua opção e de dar a sua resposta à oferta que Deus nos faz. Desde a eternidade, Deus nos amou e nos destinou à felicidade. Como não podemos alcançar essa proposta por nossas próprias forças, ele nos envia o Salvador, tornando-nos seus herdeiros.
Na primeira leitura – Gn 3,9-15-20 –, recorrendo às figuras míticas de Adão e Eva, a catequese de Israel mostra-nos a humanidade que rejeita as propostas de Deus e prefere trilhar caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência, à margem de Deus. Essa opção afasta os seres humanos da vida verdadeira; atira-os para um horizonte de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte. A pergunta de Deus dirigida a Adão – “onde estás?” – vê-se uma certa ironia: o casal primogênito não está mais
sob o estado de graça da Criação: eles pecaram. Nenhum deles é capaz de assumir a responsabilidade daquilo que aconteceu: Adão acusa Eva, Eva acusa a serpente. Diante disso, no versículo 15, vemos a promessa de uma descendência que derrotará a serpente: a esperada Mãe do Messias, a nova Eva, aquela a quem o Anjo se dirige com a saudação: “cheia de graça!”. Aqui fica uma advertência importante: não raro, procuramos nos esconder de Deus. Ele, porém, não desiste de nos propor sua amizade.
O Evangelho – Lc 1,26-38 – apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo. Maria de Nazaré acolhe a parte que lhe cabe no projeto redentor de Deus: ser a Mãe do Filho do Pai. Desse modo, Ela se torna, para nós, porta de salvação. O nascimento do Salvador só será possível com a colaboração de Maria. Ela acolhe o desafio e se apresenta como a “serva do Senhor”, disposta a cumprir a vontade divina. Coberta pela “sombra do Altíssimo”, nela habita a glória de Deus!
Peçamos a Nossa Senhora a graça de fugir do pecado. Tenhamos horror a todo pecado e a toda maldade humana. Sejamos homens e mulheres que procuremos a santidade. A santidade neste mundo abre as portas para a comunhão dos santos nos céus! A Imaculada Conceição é a “cheia de graça” para servir! Tenhamos bem presente as palavras do Arcanjo Gabriel: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Somente uma mulher “plena de graça”, desde a sua concepção, teria condições de acolher o dom mais precioso que o mundo já recebeu: Jesus, o amor encarnado de Deus!
Nossa Senhora, a concebida sem pecado original, nos aponta para o seguimento de Jesus. Que Ela, cheia de graça,
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
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