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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

Oh Maria, concebida sem pecado original!


 A Solenidade da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de dezembro, foi inscrita no calendário litúrgico pelo Papa Sisto IV em 28 de fevereiro de 1477. No entanto, o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria só foi proclamado pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, através da Bula Ineffabilis Deus. Nesta solenidade a liturgia propõe-nos o exemplo de Maria, a mulher sempre disponível para abraçar as indicações e os projetos de Deus.

Maria Santíssima é a digna habitação preparada pelo Pai para a Encarnação do Filho Unigênito, uma vez que, desde sua concepção, Maria foi preservada da mancha do pecado original. As leituras de hoje rezam este mistério. Na verdade, entre o texto do livro de Gênesis e o Evangelho de São Lucas, há a expressão de uma antítese.

Maria, a Imaculada Conceição, vai nos preparando, dentro do Advento, na tônica mais intensa do caminho de preparação para o Natal de Jesus, o “Deus conosco”, que não vem ao mundo para ser servido, mas para servir e olhar com carinho especialmente os pobres, os sofredores, os marginalizados, os doentes, os migrantes, os presos, os que estão nos asilos e todos os descartados da sociedade.

Na segunda leitura – Ef 1,3-6.11-12 – Paulo reflete sobre “o mistério”, o projeto de Deus para o mundo e para os homens. Esse projeto, inscrito desde sempre na mente do próprio Deus, foi-nos revelado por Jesus Cristo. Com a sua vida, as suas palavras, os seus gestos, o seu amor até ao extremo, Cristo disse-nos como devíamos viver para encontrar vida em plenitude. Cada um de nós terá de fazer a sua opção e de dar a sua resposta à oferta que Deus nos faz. Desde a eternidade, Deus nos amou e nos destinou à felicidade. Como não podemos alcançar essa proposta por nossas próprias forças, ele nos envia o Salvador, tornando-nos seus herdeiros.

Na primeira leitura – Gn 3,9-15-20 –, recorrendo às figuras míticas de Adão e Eva, a catequese de Israel mostra-nos a humanidade que rejeita as propostas de Deus e prefere trilhar caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência, à margem de Deus. Essa opção afasta os seres humanos da vida verdadeira; atira-os para um horizonte de sofrimento, de destruição, de infelicidade e de morte. A pergunta de Deus dirigida a Adão – “onde estás?” – vê-se uma certa ironia: o casal primogênito não está mais

sob o estado de graça da Criação: eles pecaram. Nenhum deles é capaz de assumir a responsabilidade daquilo que aconteceu: Adão acusa Eva, Eva acusa a serpente. Diante disso, no versículo 15, vemos a promessa de uma descendência que derrotará a serpente: a esperada Mãe do Messias, a nova Eva, aquela a quem o Anjo se dirige com a saudação: “cheia de graça!”. Aqui fica uma advertência importante: não raro, procuramos nos esconder de Deus. Ele, porém, não desiste de nos propor sua amizade.

O Evangelho – Lc 1,26-38 – apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total, resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo. Maria de Nazaré acolhe a parte que lhe cabe no projeto redentor de Deus: ser a Mãe do Filho do Pai. Desse modo, Ela se torna, para nós, porta de salvação. O nascimento do Salvador só será possível com a colaboração de Maria. Ela acolhe o desafio e se apresenta como a “serva do Senhor”, disposta a cumprir a vontade divina. Coberta pela “sombra do Altíssimo”, nela habita a glória de Deus!

Peçamos a Nossa Senhora a graça de fugir do pecado. Tenhamos horror a todo pecado e a toda maldade humana. Sejamos homens e mulheres que procuremos a santidade. A santidade neste mundo abre as portas para a comunhão dos santos nos céus! A Imaculada Conceição é a “cheia de graça” para servir! Tenhamos bem presente as palavras do Arcanjo Gabriel: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). Somente uma mulher “plena de graça”, desde a sua concepção, teria condições de acolher o dom mais precioso que o mundo já recebeu: Jesus, o amor encarnado de Deus!

Nossa Senhora, a concebida sem pecado original, nos aponta para o seguimento de Jesus. Que Ela, cheia de graça,

+ Anuar Battisti

Arcebispo Emérito de Maringá, PR 

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