Na oitava do Natal temos a alegria de festejar a Sagrada Família: Jesus, Maria e José. O Deus que se vestiu de menino frágil e se apresentou aos homens no presépio de Belém encontrou abrigo numa família humana, a família de José e de Maria, dois jovens esposos de Nazaré, uma aldeia situada nas colinas da Galileia. Neste domingo, ainda em contexto de celebração do Natal do Senhor, a liturgia convida-nos a olhar para essa Sagrada Família; e propõe-nos que a vejamos como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares. Jesus nasceu no seio de uma família pobre e humilde e nela criou o vínculo do amor, da acolhida, do respeito e da união. Juntamente com Maria e José, colocamo-nos diante do mistério da Encarnação do Deus-Amor, que vem conosco conviver e formar uma só família fundamentada no amor. Nossos olhares devem estar fixos na simplicidade e na ternura da cena do Presépio. Hoje, somos iluminados pelos belos exemplos da Família Sagrada, de modo que possamos imitá-los, principalmente junto aos nossos, em nossos lares.
O Evangelho – Lc 2,41-52 – leva-nos até aos átrios do Templo de Jerusalém, onde o jovem Jesus está a ouvir as discussões dos rabis sobre a Palavra de Deus. Estamos diante da perda e do encontro de Jesus no templo, repleto de simbolismos pascais, mostra-nos o Menino que recebe, no templo, a lei e demonstra sua sabedoria e dedicação àquilo que é do Pai do Céu. Confrontado com a preocupação de Maria e de José, que o procuravam aflitos, Jesus enuncia o princípio fundamental que norteia a sua existência: Deus é o princípio, o centro e o fim de toda a sua vida; Ele fará sempre tudo para estar com Deus, para escutar Deus, para obedecer a Deus, para viver ao ritmo de Deus. Aliás, foi isso que Ele aprendeu com Maria e com José. A Família de Nazaré é uma família que se constrói à volta de Deus e do seu projeto.
A segunda leitura – Cl 3,12-21 – sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem “em Cristo” e aceitaram o convite para ser “Homem Novo”. Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço. A leitura nos mostra como as nossas relações devem ser pautadas, inclusive as familiares. Diz o autor sagrado: “amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). O amor é sempre a medida e o modo do
cristão se colocar no mundo com os outros, seguindo o exemplo de Cristo. Deve ressaltar-se o bom relacionamento na comunidade e na família. Como Deus nos ama, devemos o amor uns aos outros. Cada membro da família pode fazer sua parte para viver no respeito e na paz.
A primeira leitura – Eclo 3,3-7.14-17a – apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais… Ao explicitar o Mandamento de honrar pai e mãe, deixa-nos uma bela catequese sobre as relações familiares. Amar, acolher e respeitar os pais, além de ser um dever, traz benefícios aos filhos. Cuidar dos pais e idosos e valorizá-los é especialmente importante. Cada vez mais eles, são abandonados e entregues à instituições. É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.
Ingressando no Ano Jubilar, ocorre-nos o quanto o nosso povo valoriza as peregrinações aos santuários. Famílias inteiras costumam peregrinar Às Igrejas de referência e ao Santuário Nacional de Aparecida para agradecer e pedir graças. É muito importante para as famílias católicas cultivar essa dimensão de avivamento da fé por meio de gestos que requerem sacrifício, mas também trazem conforto ao coração.
Ao final da peregrinação ao Templo de Jerusalém, a Família de Nazaré retorna para as suas atividades diárias, pondo em prática os frutos espirituais da experiência feita. O Ano Jubilar da Esperança é excelente oportunidade para fazermos, nós também, essa experiência de sermos peregrinos da Esperança.
Unidos a todas as (Arqui) Dioceses espalhadas pelo mundo e ao Papa Francisco, realizamos a Abertura do Jubileu Ordinário do Ano Santo de 2025 com o tema: “Peregrinos da Esperança”. Sejamos peregrinos da esperança neste mundo que precisa redescobrir o valor da família e da indissolubilidade do matrimônio. A Igreja e o mundo precisam da seiva das famílias, tal qual a árvore da água. Que a Família Sagrada de Nazaré seja fonte de inspiração para nossas famílias!
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
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