O Dia Internacional da Mulher é o momento principal de reflexão sobre os avanços e desafios da mulher na sociedade, especialmente na conquista de respeito e espaço em diferentes áreas. No entanto, há um campo em que a mulher já é majoritária e desempenha um papel insubstituível: o cuidado com a vida e a saúde. No ambiente hospitalar e nas mais diversas áreas da assistência médica, as mulheres são a maioria, dedicando-se com competência e amor ao serviço da humanidade. Essa realidade nos leva a um paralelo interessante com a história bíblica, na qual a presença feminina sempre foi essencial, desde os tempos antigos até os momentos mais marcantes da vida de Cristo.
O papel da mulher no cuidado e na assistência remonta aos primeiros relatos bíblicos. Desde Eva, a mãe da humanidade (Gn 3,20), até as parteiras que desafiaram o decreto de Faraó para salvar os recém-nascidos hebreus (Ex 1,15-21), a Bíblia nos mostra que a mulher sempre esteve associada à vida, ao acolhimento e à proteção dos mais vulneráveis.
Ao longo das Escrituras, encontramos inúmeras referências à atuação feminina no serviço ao próximo. Rute, que permaneceu fiel à sua sogra Noemi e garantiu sua sobrevivência (Rt 1,16-17); Ester, que intercedeu pelo seu povo e salvou os judeus da destruição (Est 4,13-16); e a profetisa Débora, que não apenas guiou Israel espiritualmente, mas também exerceu liderança política e militar (Jz 4,4-10).
No Novo Testamento, essa realidade se amplia ainda mais. Marta e Maria, irmãs de Lázaro, acolhiam Jesus em sua casa e demonstravam diferentes formas de dedicação a Ele: Marta, pelo serviço prático; Maria, pela escuta atenta da Palavra (Lc 10,38-42). Maria Madalena, a quem Jesus apareceu primeiro após a ressurreição, foi incumbida de levar a notícia da vitória sobre a morte aos discípulos, tornando-se a “apóstola dos apóstolos” (Jo 20,11-18).
No centro dessa realidade está Maria, a Mãe de Jesus, que personifica o cuidado, a entrega e a doação total. Desde o “sim” na Anunciação (Lc 1,38) até o momento doloroso da cruz, quando recebe de Jesus a missão de ser Mãe da humanidade (Jo 19,25-27), Maria ensina a todos, especialmente às mulheres, o significado do amor que se doa sem reservas.
Assim como as mulheres bíblicas foram fundamentais para a história da salvação, hoje elas continuam a ser protagonistas no cuidado da vida. No entanto, ainda há muito a ser feito para que tenham o reconhecimento e o respeito que merecem. A presença feminina na área da saúde mostra que o talento e a dedicação das mulheres são indispensáveis, mas a sociedade precisa garantir que elas tenham condições dignas de trabalho, oportunidades iguais e proteção contra qualquer forma de discriminação.
A fé cristã nos ensina que todos, homens e mulheres, foram criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27) e que em Cristo “não há mais homem nem mulher, pois todos são um só” (Gl 3,28). Isso nos desafia a construir uma sociedade mais justa, onde o valor da mulher seja plenamente reconhecido, tanto na área da saúde quanto em todas as esferas da vida.
Neste Dia da Mulher, que possamos recordar e celebrar a sua missão inestimável na história, na fé e no cuidado com o próximo. Que as mulheres se inspirem nas heroínas da Bíblia e no testemunho de Maria, e que todos nós, como cristãos, nos empenhemos para que elas tenham cada vez mais espaço, dignidade e respeito.
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de São Maringá (PR)
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