A Missa do Crisma é uma das celebrações mais significativas do calendário litúrgico católico. Geralmente presidida pelo bispo na manhã da Quinta-feira Santa — embora, por razões pastorais, possa ser antecipada para outro dia da Semana Santa —, ela reúne o clero e os fiéis de toda a diocese em torno de três importantes gestos eclesiais: a consagração dos santos óleos, a renovação das promessas sacerdotais e a expressão concreta da comunhão eclesial.
Essa celebração é um sinal visível da fé que professamos: o Cristo que nos salva é o Ungido do Pai, aquele sobre quem repousa o Espírito (cf. Lc 4,18). Ele mesmo nos comunica seu Espírito Santo por meio dos sacramentos, fazendo-nos partícipes da sua missão. A Missa do Crisma é, portanto, uma celebração profundamente cristológica e pneumatológica, centrada na ação salvífica de Jesus e no dom do Espírito que unge, consagra, cura e fortalece.
Ao redor do altar, nesta celebração solene, o povo de Deus reconhece o vínculo que une cada paróquia, comunidade e pastoral à missão evangelizadora da Igreja. O bispo, como sucessor dos apóstolos, preside a Eucaristia cercado de seus presbíteros, diáconos, seminaristas e representantes de todas as expressões da Igreja local. Esse momento torna visível a comunhão que sustenta o Corpo de Cristo — comunhão que é alimentada pelo Espírito Santo e orientada pela missão de anunciar o Evangelho.
Essa unidade manifesta o que Jesus rezou ao Pai: “Para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). A Missa do Crisma é expressão concreta da comunhão eclesial desejada por Cristo e sustentada pelo Espírito que faz da Igreja um só corpo (cf. 1Cor 12,12-13).
Durante a Missa do Crisma, os padres renovam diante do bispo e da assembleia suas promessas sacerdotais feitas no dia da ordenação. Com humildade e fé, eles reafirmam o compromisso de servir ao povo de Deus, de viver em obediência e dedicação ao ministério recebido. Para os fiéis, esse gesto é oportunidade de rezar pelos seus pastores, de agradecer a Deus pelo dom do sacerdócio e de fortalecer a corresponsabilidade na missão da Igreja.
Essa renovação recorda que o sacerdócio ministerial é dom e serviço, conforme a imagem de Cristo, o Bom Pastor, que “dá a vida por suas
ovelhas” (Jo 10,11). Por meio dos padres, a Igreja torna presente sacramentalmente o único sacerdócio de Cristo, “sumo sacerdote dos bens futuros” (Hb 9,11), que intercede por nós junto ao Pai.
O ponto central da celebração é a bênção dos três óleos santos, que serão usados ao longo do ano nos sacramentos e ritos da Igreja:
· Óleo dos Enfermos, usado no Sacramento da Unção, é sinal da ternura de Deus que consola e fortalece os que sofrem no corpo e no espírito. Como nos diz a Carta de Tiago: “Alguém dentre vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor” (Tg 5,14).
· Óleo dos Catecúmenos, aplicado no batismo, recorda que o Espírito Santo prepara o coração dos que serão iniciados na fé. O óleo simboliza a força de Deus que liberta do pecado e fortalece para o combate espiritual, como em Efésios 6,10-11: “Fortalecei-vos no Senhor, no poder de sua força. Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às ciladas do diabo.”
· Santo Crisma, consagrado com perfume e oração solene, é utilizado no Batismo, na Crisma, na Ordenação e na dedicação de altares e igrejas. Sua fragrância simboliza a dignidade, a missão e a consagração dos filhos de Deus. Como diz a Escritura: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu” (Is 61,1), profecia que se cumpre plenamente em Cristo e que, por graça, se estende a todo batizado.
Ao abençoar e consagrar os óleos, o bispo pede a Deus que conceda a todos aqueles que os receberem a plenitude dos dons do Espírito e a graça da fidelidade cristã.
A Missa do Crisma também recorda a missão que pertence a todo batizado. Ungidos pelo Espírito no batismo e na crisma, todos os fiéis são chamados a ser “luz do mundo e sal da terra” (cf. Mt 5,13-14). Assim como Cristo foi ungido para evangelizar os pobres e anunciar a liberdade (cf. Lc 4,18), também nós somos enviados a testemunhar o Reino de Deus com palavras e ações, promovendo a justiça, a paz e o amor.
O Papa Francisco nos recorda que “cada batizado, qualquer que seja sua função na Igreja e o grau de instrução de sua fé, é um sujeito ativo de evangelização” (Evangelii Gaudium, 120). A unção recebida na Missa do Crisma envia todo o povo de Deus a ser missionário, a irradiar a beleza do
Evangelho e a construir comunidades marcadas pelo amor, pela acolhida e pela esperança.
Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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