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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

59º Dia Mundial das Comunicações Sociais

 


“Inteligência Artificial e Sabedoria do Coração: por uma comunicação plenamente humana”


Todos os anos, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial das Comunicações Sociais, instituído pelo Concílio Vaticano II, com o objetivo de promover a reflexão sobre o papel dos meios de comunicação na vida da Igreja e da sociedade. Em 2025, essa celebração chega à sua 59ª edição, e será comemorada no domingo da Ascensão do Senhor, dia 1º de junho. A data é uma ocasião importante para reconhecer o valor da comunicação na construção da verdade, do diálogo, da paz e da evangelização.

O Papa Francisco escolheu como tema para este ano: “Inteligência Artificial e Sabedoria do Coração: por uma comunicação plenamente humana”. Esse tema se insere nas profundas transformações que a sociedade vive no campo tecnológico, especialmente com o crescimento exponencial da inteligência artificial (IA) e sua presença cada vez mais constante em todos os aspectos da vida humana — desde a produção de conteúdos, o trabalho e a educação, até o ambiente religioso e pastoral.

Com esse título, o Papa propõe uma reflexão crítica e esperançosa sobre como as novas tecnologias podem (ou não) contribuir para uma comunicação autêntica, capaz de promover relações humanas verdadeiras, solidárias e compassivas.

O conceito de “sabedoria do coração” é central na mensagem. Para o Papa, comunicar-se verdadeiramente não é apenas transmitir dados ou reproduzir mensagens automatizadas, mas é colocar-se diante do outro com empatia, escuta e responsabilidade. A sabedoria do coração envolve discernimento, ética e o desejo de bem comum.

Francisco alerta sobre os riscos de uma comunicação desumanizada, fria e manipuladora, muitas vezes fomentada por algoritmos que privilegiam a polarização e o sensacionalismo. Por isso, ele chama a atenção para o fato de que, mesmo com ferramentas tecnológicas sofisticadas, a comunicação humana permanece um dom profundamente espiritual e moral, que deve ser exercido com verdade, liberdade e caridade.

A Inteligência Artificial pode ser uma aliada poderosa para a missão da Igreja e da sociedade, quando usada com critérios éticos e voltada para o bem das pessoas. Ela pode, por exemplo, facilitar a tradução de conteúdos religiosos, ampliar o acesso à informação, auxiliar na formação e

evangelização, além de contribuir para a inclusão de pessoas com deficiências.

Por outro lado, o Papa Francisco levanta preocupações legítimas: quem controla as tecnologias? Que valores norteiam as programações e decisões dos sistemas inteligentes? A quem servem os dados que são coletados diariamente? Há riscos reais de manipulação, vigilância e desinformação em larga escala.

Portanto, o chamado do Papa é à responsabilidade ética, à formação crítica de todos — especialmente dos comunicadores, educadores, agentes pastorais, desenvolvedores e líderes — para que a IA esteja a serviço de uma comunicação “plenamente humana”, baseada na dignidade de cada pessoa.

O Dia Mundial das Comunicações é também um convite para que todos — padres, bispos, religiosos, jornalistas, catequistas, influenciadores digitais, leigos engajados — reflitam sobre como estão se comunicando no mundo atual. O Papa tem insistido ao longo de seu pontificado que a missão da comunicação cristã é construir pontes, derrubar muros e anunciar a esperança.

O Evangelho nos ensina que Jesus é o comunicador por excelência. Ele se fazia próximo das pessoas, escutava com atenção, falava com autoridade, mas sempre com misericórdia. A mensagem de Jesus é, ao mesmo tempo, exigente e consoladora, porque vem de um coração que ama profundamente.

Seguindo o exemplo de Cristo, somos chamados a comunicar com sabedoria e verdade, sem fake news, sem agressividade, sem julgamento apressado. A comunicação cristã deve ser instrumento de reconciliação, compreensão e luz para um mundo tão carente de sentido e de esperança.

O 59º Dia Mundial das Comunicações nos coloca diante de uma encruzilhada histórica: ou usamos a inteligência artificial com sabedoria para o bem comum, ou corremos o risco de transformar a comunicação num instrumento de desumanização.

A Igreja nos convida a sermos protagonistas de uma comunicação ética, transparente e profundamente humana. Que saibamos usar todos os meios, inclusive os digitais e tecnológicos, como instrumentos de anúncio da Boa Nova, de promoção da paz e de testemunho da verdade.

Que a sabedoria do coração, iluminada pelo Espírito Santo, guie cada palavra, cada gesto, cada publicação. Que nossas comunicações nas redes, nas mídias e nas conversas diárias sejam expressão de um amor que não se cansa de escutar, acolher e transformar.

+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

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