“Procura a paz e segue-a.” (Salmo 34,15)
O mundo vive hoje tempos de grande turbulência. O recente agravamento do conflito entre Israel e Irã tem causado inquietação global. As ameaças mútuas, o uso de armamentos letais e a instabilidade política na região já ceifaram vidas inocentes e colocam milhões de pessoas em risco. Diante disso, não basta assistir de longe ou comentar com indiferença. A fé cristã nos exige uma resposta que nasça da compaixão e se manifeste na ação.
As Sagradas Escrituras estão repletas de convocações à paz. O Salmo 34 nos exorta: “Afasta-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a”. Essa não é uma proposta passiva. Exige movimento, escolha, perseverança. E, em um mundo cada vez mais polarizado, onde a tentação do ódio é alimentada por discursos ideológicos e por interesses políticos, seguir a paz é, hoje, um ato de fidelidade ao Evangelho.
No Oriente Médio, os conflitos parecem eternos, mas Deus não abandona seus filhos. Embora haja interesses geopolíticos complexos por trás da tensão entre Israel e Irã, a fé cristã nos convida a olhar para o ser humano e não apenas para os Estados. Em vez de tomar partido político ou religioso, o cristão é chamado a tomar partido da vida, da dignidade e da reconciliação.
A diplomacia, os acordos, a mediação internacional são ferramentas legítimas que devem ser usadas com sabedoria. Por isso, é importante que as nações — inclusive a nossa — atuem com equilíbrio, ética e coerência em suas relações exteriores. O apoio ou o silêncio diante de regimes autoritários, de ações militares desproporcionais ou de violações dos direitos humanos, ainda que sob justificativas estratégicas, não condiz com os valores de um povo que se reconhece cristão.
No Brasil, a paz também está sob ameaça constante. Não por uma guerra declarada, mas pela banalização da violência em todos os âmbitos da vida social. O medo se tornou uma constante em muitas comunidades. Vemos escolas em estado de alerta, famílias em luto, bairros dominados por
milícias ou pelo tráfico, e uma juventude que cresce sob a sombra da exclusão e da insegurança.
Jesus nos ensinou: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5,9), e São Paulo nos lembra que “o fruto do Espírito é a paz” (Gl 5,22). Isso nos obriga a olhar para o mundo com outros olhos e com outras mãos: mãos que acolhem, que cuidam, que constroem. A paz não se faz com discursos inflamados, mas com políticas públicas que garantam educação, saúde, segurança e respeito aos direitos de todos.
É também responsabilidade da comunidade cristã formar consciências para a paz. Isso significa não apenas ensinar o mandamento do amor, mas também ajudar os fiéis a discernirem, à luz da fé, suas escolhas e posicionamentos diante da realidade. O voto, o consumo, a linguagem nas redes sociais, o engajamento social e o apoio a causas justas são formas concretas de seguir o caminho da paz.
Embora tenha partido para a casa do Pai, o Papa Francisco deixou um imenso legado de ensinamentos sobre a cultura da paz e a fraternidade entre os povos. Ele dizia que não haverá paz enquanto o mundo não reconhecer a fraternidade como fundamento das relações humanas. Que sua memória nos inspire a não desistir de sonhar com um mundo mais justo, mais humano, mais conforme o Reino de Deus.
Neste momento difícil, somos chamados a ser sinais vivos da esperança cristã. Não nos deixemos paralisar pela indiferença ou pela impotência. Rezemos, sim, mas também nos envolvamos. Como diz São Pedro em sua primeira carta: “Busquem a paz com perseverança” (1Pd 3,11).
Que o Espírito Santo, dom da Ressurreição, nos fortaleça na missão de sermos construtores da paz — no Oriente Médio, no Brasil e em cada lugar onde o sofrimento humano clama por justiça e reconciliação.
Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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