“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9,20)
Irmãos e irmãs,
Neste 12º Domingo do Tempo Comum, o Evangelho – Lc 9,18-24 – nos apresenta um momento decisivo do ministério de Jesus. Após um tempo de pregações, curas e sinais, o Senhor se retira com seus discípulos para rezar — e, na intimidade da oração, provoca uma virada na compreensão da fé: “Quem o povo diz que eu sou?” E depois, mais profundamente: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Essa pergunta ressoa até hoje no coração de cada cristão. Não é suficiente saber o que os outros dizem sobre Jesus — o que os livros ensinam, o que as redes comentam, o que a sociedade afirma. Jesus quer saber o que eu e você dizemos d’Ele a partir de nossa vida pessoal, de nossa experiência concreta com sua presença.
Pedro, iluminado pela graça, responde com fé: “Tu és o Cristo de Deus.” Essa confissão é o coração da nossa vida cristã. Reconhecer que Jesus é o Messias, o Enviado, o Salvador — não apenas com os lábios, mas com a vida — é o início de uma verdadeira conversão.
Mas o Senhor imediatamente nos revela algo surpreendente: o Cristo, o Ungido, será rejeitado, sofrerá, será morto e ressuscitará. Em outras palavras, o Messias esperado não virá com glória terrena, mas com o caminho da cruz. Jesus nos mostra que o sofrimento e a entrega são parte do caminho da salvação.
E mais: Ele diz que “se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me.” A cruz, irmãos e irmãs, não é um castigo, mas o sinal de um amor radical. Seguir Jesus é aceitar perder certas seguranças para ganhar a vida verdadeira. É escolher o caminho do dom de si, da fidelidade a Deus, do amor aos irmãos — mesmo quando isso exige renúncia.
Hoje, o Senhor nos pergunta novamente:
– Quem sou Eu para você?
– Sou apenas uma ideia bonita? Um personagem histórico? Uma tradição herdada? Ou sou o Senhor da sua vida, o centro do seu coração?
Se respondemos como Pedro — “Tu és o Cristo de Deus” —, então somos chamados a viver como discípulos autênticos. Isso significa:
· Escutar a Palavra e deixar que ela nos transforme;
· Buscar uma vida de oração que nos conecte à vontade do Pai;
· Carregar com amor e esperança as cruzes do dia a dia: a enfermidade, os desafios familiares, as lutas contra o pecado, a solidariedade com os que sofrem;
· E, sobretudo, viver com a certeza da ressurreição, porque a cruz não é o fim, mas o caminho para a glória.
Neste domingo, que a nossa resposta a Jesus seja sincera e comprometida. Que não sejamos cristãos de palavras, mas de atitudes. E que, fortalecidos pela Eucaristia, sigamos firmes com nossa cruz, com o olhar fixo naquele que deu a vida por nós.
Amém.
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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