A liturgia do décimo segundo domingo comum convida-nos a mergulhar um pouco mais no mistério de Jesus. O objetivo não é ampliarmos conhecimentos sobre uma figura histórica ou cunharmos fórmulas abstratas de fé; mas é “acreditarmos” em Jesus, tornarmo-nos discípulos, caminharmos atrás d’Ele no caminho que leva à vida verdadeira. Nós somos chamados a confessar Jesus como Cristo de Deus, fonte de amor e de vida, recordando-nos que todos os que fomos batizados em Cristo, dele nos revestimos.
No Evangelho – Lc 9,18-24 – Jesus confronta os discípulos com uma questão decisiva: “quem dizeis que Eu sou, que lugar ocupo eu no vosso projeto de vida?” Depois, convida-os a ir com Ele até Jerusalém, até à cruz, até ao dom total da vida por amor. Jesus garante aos discípulos que uma vida vivida em chave de amor, de serviço, de entrega, de dom, não é uma vida desperdiçada; mas é uma vida plenamente realizada. A mesma pergunta de Jesus para os seus discípulos é dirigida a cada um de nós: jesus desafia seus seguidores a confessar quem é ele. Diante da resposta de Pedro, o Mestre Jesus procura mostrar aos discípulos que é na cruz que se encontra a chave reveladora de seu ministério. Rejeitado, Cristo adverte que quem quiser se tornar seu discípulo deve segui-lo no caminho da cruz.
Na primeira leitura – Zc 12,10-11;13-1 – o profeta Zacarias desafia os habitantes de Jerusalém a olharem para um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega se transformou em fonte de vida nova para os seus irmãos. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo. A leitura fala de alguém “ferido de morte” – talvez um profeta ou alguma outra liderança. Sua morte significa choro e lamento para o povo, mas também retomada, conversão e volta para Deus.
Na segunda leitura Paulo – Gl 3,26-29 – convida os cristãos das comunidades da Galácia a “revestirem-se” de Cristo. “Revestir-se de Cristo” é fazer de Cristo a sua referência, viver em comunhão com Ele, caminhar ao ritmo d’Ele, abraçar o projeto que Ele veio propor. Os que fazem essa opção entram numa grande família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude. Todos nós somos filhos e filhas
de Deus pela fé em Jesus Cristo. Portanto, já não há diferenças entre as pessoas. Cabe-nos superar toda e qualquer discriminação e preconceito.
Hoje a liturgia repete a pergunta: Quem é Jesus para você? Pedro diz que Jesus é o enviado de Deus, o Messias, o Esperado. Por isso, para seguir a Jesus nós devemos deixar de lado os interesses pessoais mesquinhos e tomar a nossa cruz, que é a cruz de Jesus. Não o Jesus dos quadros, dos posteres ou daqueles escritos nos para-choques de carros e caminhões que diz que: “Jesus: este nome tem poder”. Isto é pouco, é insuficiente. A pergunta deve ser outra: “Quem sou eu na vida de Jesus?
Ser de Jesus é construído no cotidiano, no dia a dia da própria vida fazendo o bem, distribuindo o perdão, amando sem limites, inclusive os inimigos; trabalhando com dedicação e afinco pela dilatação do Reino de Deus no mundo. Por isso, a revelação da verdadeira identidade de Jesus não deve despertar em nós – seus discípulos – um espírito de prepotência, arrogância ou superioridade. O Senhor Jesus nos ensina a sua verdadeira missão: de sofrimento, de rejeição, morte e ressurreição. É impossível alcançar uma vida plena e ressuscitada sem passar pelas dificuldades e desafios da missão.
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
Comentários
Postar um comentário