Irmãos e irmãs em Cristo,
Neste 15º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus nos convida a refletir sobre a essência do amor cristão e sobre o chamado a vivermos uma fé concreta, que se expressa em atitudes de misericórdia, compaixão e proximidade com o outro.
A primeira leitura, do livro do Deuteronômio (Dt 30,10-14), nos lembra que a Lei de Deus não está distante de nós, nem está no céu ou além-mar, mas “está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas pôr em prática” (Dt 30,14). Moisés fala a um povo que está prestes a entrar na Terra Prometida e insiste que viver segundo os mandamentos do Senhor não é algo fora da realidade, mas plenamente possível e necessário. Ou seja, a Palavra de Deus está próxima, ao nosso alcance, e nos pede uma resposta prática: escutá-la e colocá-la em ação.
Essa proximidade da Palavra é também o que o salmista expressa ao dizer: “A lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma; o testemunho do Senhor é fiel, dá sabedoria aos simples” (Sl 18(19),8). A sabedoria verdadeira não é privilégio dos doutores da lei, mas é oferecida a todos os que escutam e se deixam transformar pela Palavra.
No Evangelho de hoje (Lc 10,25-37), temos a conhecida parábola do bom samaritano. Tudo começa com uma pergunta feita por um doutor da Lei: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (Lc 10,25). Jesus devolve a pergunta: “O que está escrito na Lei? Como lês?” (Lc 10,26). E o doutor responde corretamente: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração... e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27). Jesus então diz: “Faz isso e viverás” (Lc 10,28).
Mas o homem quer se justificar e pergunta: “E quem é o meu próximo?” (Lc 10,29). É diante desta pergunta que Jesus conta a parábola do samaritano, na qual um homem é assaltado, espancado e deixado meio morto à beira do caminho. Passam por ele um sacerdote e um levita — representantes da religião oficial — e ambos passam adiante, sem ajudar. Quem se compadece é um samaritano, considerado herético pelos judeus. É ele quem se aproxima, cuida das feridas, coloca o homem em seu próprio animal, leva-o à hospedaria e paga suas despesas.
Jesus conclui perguntando: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” (Lc 10,36). O doutor responde: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. E Jesus diz: “Vai e faze a mesma coisa” (Lc 10,37).
Irmãos e irmãs, Jesus desmonta a lógica limitada da pergunta “quem é o meu próximo?” e a transforma em um apelo à atitude: não se trata de saber quem merece ser amado, mas de fazer-se próximo de quem precisa. Ser cristão é agir como o samaritano: enxergar a dor do outro, deixar-se comover, e cuidar, mesmo que isso exija tempo, esforço e recursos.
A segunda leitura, da carta de São Paulo aos Colossenses (Cl 1,15-20), nos apresenta o Cristo como imagem do Deus invisível, por meio de quem e para quem tudo foi criado. Ele é o centro e o sentido de todas as coisas. E, como cabeça do corpo, que é a Igreja, reconcilia todas as criaturas “fazendo a paz pelo sangue da sua cruz” (Cl 1,20). Essa reconciliação vivida por Cristo deve nos inspirar a reconciliar-nos com os irmãos, a superar divisões, a sermos instrumentos da paz que vem do alto.
A fé cristã, portanto, não pode se reduzir a doutrinas, ritos ou boas intenções. Ela se traduz em atitudes concretas de amor. É no cuidado do outro — sobretudo dos que estão caídos à beira da estrada da vida — que revelamos se realmente entendemos o que significa amar a Deus com todo o coração.
Hoje, muitos continuam caídos nas estradas do mundo: pessoas pobres, solitárias, doentes, migrantes, vítimas de violência, de racismo, de preconceito, de indiferença. O bom samaritano não apenas sentiu compaixão, mas agiu com misericórdia. E é exatamente isso que o Senhor espera de nós: que não passemos adiante, indiferentes, mas que paremos, nos aproximemos, cuidemos e amemos com gestos.
Concluímos, portanto, retomando o apelo de Jesus: “Vai e faze a mesma coisa!” (Lc 10,37). Que esta Palavra se realize em nós, que tenhamos a coragem de sermos próximos dos que sofrem, e que a misericórdia seja o sinal visível de nossa fé.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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