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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

Homilia – 17º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 Jesus nos ensina a rezar e a pedir com insistência!


Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Neste 17º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus nos conduz ao mistério da oração, da confiança filial e da intercessão perseverante. Jesus nos ensina a rezar, a confiar e a pedir com insistência. A liturgia nos propõe como centro a oração do “Pai Nosso”, que aparece no Evangelho segundo Lucas (cf. Lc 11,1-13), e se desdobra na experiência de Abraão com Deus (cf. Gn 18,20-32) e na certeza que nos é dada por São Paulo de que “fostes sepultados com Cristo no batismo, e com ele fostes também ressuscitados pela fé no poder de Deus” (Cl 2,12).

O Evangelho nos apresenta Jesus em oração. E os discípulos, vendo-O rezar, sentem o desejo de também aprender a falar com o Pai. É comovente perceber que o pedido dos discípulos nasce da contemplação: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Jesus então lhes entrega a oração que nos tornou filhos e filhas: o Pai Nosso. Ao rezarmos “Pai”, entramos numa nova relação: a de filhos adotivos, herdeiros da promessa. Já não somos servos, nem estranhos: somos da casa de Deus (cf. Ef 2,19).

Na primeira leitura, Abraão intercede por Sodoma. É a imagem da oração que dialoga, suplica, confia. Abraão não se cala diante do anúncio da destruição, mas insiste com Deus, com humildade e coragem: “Talvez haja cinquenta justos… quarenta… trinta… vinte… dez...” (Gn 18,24-32). Esta cena mostra que a oração não é um monólogo nem repetição mecânica: é relação. E Deus ouve. Deus se comove. Deus escuta.

A oração que Jesus ensina também nos convida a essa atitude: confiança e perseverança. “Pedi e recebereis, procurai e encontrareis, batei e vos será aberto” (Lc 11,9). O Senhor quer que sejamos insistentes, como aquele amigo que bate à porta à meia-noite. Não se trata de importunar a Deus, mas de mostrar que cremos no seu amor e na sua bondade. Como afirma Jesus: “Se vós que sois maus sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem” (Lc 11,13).

O apóstolo Paulo, na segunda leitura 2Col 2,12-14 –, recorda aos colossenses que a vida cristã nasce de uma experiência pascal: fomos sepultados e ressuscitados com Cristo. A oração é possível porque já vivemos uma comunhão com o Ressuscitado. Não oramos como quem lança palavras ao vento, mas como quem sabe que tem um Salvador vivo, presente e amoroso.

Hoje, também celebramos a memória de São Bento – cuja memória litúrgica no calendário romano foi celebrada em 11 de julho –, em muitos lugares. O patriarca do monaquismo ocidental viveu plenamente essa espiritualidade da escuta e da oração. Sua regra começa com um convite claro: “Escuta, ó filho, os preceitos do mestre, inclina o ouvido do teu coração”. Bento compreendeu que a oração é o alimento da alma, a respiração do monge, o laço que une a criatura ao Criador.

A tradição beneditina nos recorda que rezar é trabalhar e trabalhar é rezar – “ora et labora”. Uma vida de oração não é fuga do mundo, mas compromisso com o Reino. A oração que Jesus ensina – com seu “venha o vosso Reino” – é profundamente transformadora: nos compromete com os pobres, com a justiça, com a fraternidade. Não é uma oração intimista, mas missionária.

A oração é diálogo e intimidade com Deus. Ao celebrarmos essa liturgia, somos chamados a rever nossa vida de oração. Como está nossa relação com Deus? Rezamos com confiança ou com medo? Buscamos o Espírito Santo com insistência ou nos resignamos com uma religiosidade superficial?

Sigamos, pois, o exemplo de Abraão, de São Bento, e sobretudo de Jesus. Rezemos com o coração aberto, com a confiança dos filhos e com o ardor de quem sabe que Deus escuta, acolhe, transforma.

E que Maria Santíssima, a mulher orante por excelência, interceda por nós, para que aprendamos com seu Filho a orar e a viver em comunhão com o Pai.

Amém!

+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

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