Para onde caminhamos? O que nos espera no final do caminho? Como devemos viver para que a nossa vida não termine num fracasso? A Palavra de Deus que nos é proposta neste vigésimo primeiro domingo comum pretende responder a estas questões. O tema central da missa de hoje é a salvação, proposto porá alguém que se dirige a Jesus, perguntando-lhe: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam? – Lc 13,23. Convida-nos a caminhar de olhos postos na salvação que Deus nos quer oferecer. Diz-nos em que direção devemos caminhar para lá chegar.
Na primeira leitura – Is 66,18-21 –, um profeta não identificado desvela-nos o projeto que Deus tem para a humanidade: reunir à sua volta, na cidade da fraternidade e da paz, homens e mulheres de todas as nações e línguas, numa comunidade universal de salvação. Trata-se do “advento messiânico”, ou seja, olha para o futuro e vê a possibilidade da união das pessoas e de todos os povos, superando o exclusivismo judaico. Essa será a meta final, gloriosa e luminosa, da nossa peregrinação pela terra. O profeta Isaías, já no final de sua obra, profetiza ao povo de Israel o advento messiânico. “Virei para reunir todos os povos e línguas” (Is 66, 18b): o Messias exercerá uma força centrípeta – de atração – sobre Jerusalém; não existirá mais o exclusivismo dos judeus, mas todos poderão participar da salvação trazida pelo Ungido do Senhor. A fé na universalidade da salvação, o espírito ecumênico e o zelo missionário andam de mãos dadas.
No Evangelho – Lc 13,22-30 – Jesus é confrontado com uma pergunta acerca do número dos que se salvam. Ele não responde; mas aproveita a oportunidade para sugerir como devem viver aqueles que querem construir uma vida com sentido: “esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Os que se esforçam por entrar pela porta estreita – isto é, aqueles que se dispõem a seguir Jesus e aceitam a Sua proposta de salvação – terão lugar à mesa de Deus, independentemente da sua raça, das suas raízes, da sua história de vida.
A fala de Jesus sobre a salvação que, na verdade, nos confirma os esforços para se entrar no Reino dos Céus. Todos poderão entrar; contudo, a “porta” é estreita. Sobre este fato, o Senhor diz: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13, 24a). Dois elementos importantes devem ser observados: o primeiro é que a Igreja nascente
admite os pagãos à promessa; o segundo é que, quando aderimos a Jesus pela fé, nós devemos nos deixar transformar pela graça divina.
A salvação futura – após a morte – sempre intrigou o ser humano. Jesus aponta o caminho da salvação. A porta estará aberta para aqueles que tiverem vivido como verdadeiros discípulos de Jesus. A porta estreita é a passagem para entrar na vida eterna, a plenitude do Reino de Deus, o convívio dos que com o Senhor têm tudo para sempre. Até lá, agora é o tempo que temos para agir, para encontrar a porta certa. Essa porta estreita é conhecida também por outros nomes: misericórdia, fraternidade, justiça, solidariedade.... E o capítulo 6º. Do Evangelho segundo São Lucas mostra quem nos conduz a essa porta: os pobres, famintos, tristes e perseguidos. Indo a eles, poderemos passar pela porta estreita, tendo-nos libertado daquilo que é supérfluo e que pesa no caminho: posses, títulos, arrogância, preconceitos e todo tipo de penduricalhos que só permitiriam passar pelos largos portões do que não é o Reinado do Deus de Jesus.
Dessa vida nada levaremos, senão o amor que aqui tivermos vivido, a misericórdia que distribuímos e a humildade que nos faz caminhar ao encontro e sempre socorrer os pobres, famintos, tristes e perseguidos!
Na segunda leitura – b 12,5-7.11-13 –, um mestre cristão exorta os batizados a verem os sofrimentos e as contrariedades que tiverem de suportar, não como castigos, mas como sinais do amor de Deus. Dessa forma, poderão vencer o temor que desalenta e paralisa; alimentados pela certeza desse amor, poderão caminhar, com firmeza e perseverança, em direção à vida definitiva. Deus é Pai que ama seus filhos e nunca os submete a provas inúteis. As dificuldades e os desafios não devem ser vistos como castigos de Deus, mas podem constituir a “pedagogia divina” para fortalecer nosso compromisso com o projeto de Jesus. Precisamos nos educar na escola do Mestre, o qual enfrentou todo tipo de desafios e de perseguição.
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
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