Homilia – 18º Domingo do Tempo Comum Cuidado com a ganância. Ela ilude! Nossa segurança é em Cristo!
“A vida de um homem não consiste na abundância de bens” (cf. Lc 12,15)
Amados irmãos e irmãs,
A Palavra de Deus deste 18º Domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre a tentação da ganância, a ilusão da segurança nos bens materiais e o chamado a buscar os tesouros do alto, que permanecem.
Na primeira leitura, do livro do Eclesiastes (Ecl 1,2; 2,21-23), ouvimos o famoso lamento: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” O autor sagrado, numa espécie de exame existencial, constata a inutilidade de se acumular riquezas com tanto esforço e fadiga, quando tudo isso pode passar a outros que nada trabalharam por elas. Trata-se de um olhar lúcido e crítico sobre a limitação das coisas terrenas. Mesmo quando alguém se dedica com sabedoria, ciência e êxito, ao final tudo pode parecer vão. A pergunta que se impõe é: para que serve acumular, se a vida é breve e incerta?
O salmo 89(90) prolonga esse olhar contemplativo da existência ao rezar: “Vós fazeis voltar ao pó todo mortal, quando dizeis: ‘Voltai ao pó, filhos de Adão!’” A brevidade da vida humana é comparada a um sonho que passa, a uma erva que brota e seca no mesmo dia. Por isso, a súplica do salmista é também nosso pedido: “Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria!” Somente Deus pode dar sentido ao tempo e ao trabalho humano. Só com Ele o esforço não se torna vão.
Na segunda leitura, São Paulo exorta os Colossenses (Cl 3,1-5.9-11) a uma profunda mudança de mentalidade: “Esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Aspirai às coisas celestes, e não às coisas terrestres.” Essa busca não significa desprezo pelo mundo ou pelas realidades materiais, mas uma orientação nova do coração. Paulo insiste que o cristão, pelo batismo, já morreu com Cristo para o pecado e deve deixar de lado o “homem velho”, marcado por desejos desordenados, idolatria, mentira e divisão. No lugar disso, somos chamados a revestir-nos do “homem novo”, no qual “Cristo é tudo em todos”. Essa expressão resume o ideal cristão: Cristo é o centro, o sentido, o critério, o horizonte.
No Evangelho (Lc 12,13-21), Jesus narra a parábola do homem rico que, após uma colheita abundante, decide construir celeiros maiores para guardar seus bens e garantir para si uma vida tranquila, dizendo a si mesmo: “Tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!” Mas Deus lhe responde com firmeza: “Louco! Ainda nesta noite pedirão de ti a tua vida. E para quem ficará o que acumulaste?” Jesus conclui com um alerta que ressoa até hoje: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.”
Aqui está o ponto central da liturgia de hoje: de que adianta ter tudo, se perdemos a alma? De que serve acumular riquezas, construir projetos, garantir estabilidade, se tudo isso pode acabar num instante e não levar conosco o essencial? O Evangelho não condena o trabalho, o esforço ou os bens em si, mas a atitude do coração que coloca a segurança neles e se esquece de Deus e do próximo.
A verdadeira riqueza é ser “rico diante de Deus”. Isso significa viver com fé, partilhar com generosidade, buscar a justiça, praticar a caridade, cultivar a comunhão. É possível ser pobre materialmente e muito rico espiritualmente, assim como é possível ter grandes posses e ser espiritualmente miserável.
Queridos irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo nos ajuda a reorientar nossas prioridades. O tempo passa, as posses se vão, a saúde oscila, a fama desaparece… mas a vida com Deus permanece. Só Ele dá sentido duradouro ao nosso viver. Só Nele a nossa alma encontra descanso e plenitude. Cuidado com a ganância. Ela ilude! Nossa segurança é em Cristo!
Que possamos viver com sabedoria, com os pés na terra, mas com o coração voltado para o céu, lembrando sempre que nossa verdadeira pátria é eterna, e que aqui estamos apenas de passagem.
“Ensinai-nos a contar os nossos dias e dai ao nosso coração sabedoria” (Sl 89,12). Amém.
+ Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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