Irmãos e irmãs em Cristo,
As leituras deste 19º Domingo do Tempo Comum nos convidam a viver com fé, vigilância e esperança, atitudes fundamentais para aqueles que caminham com o Senhor. O fio condutor entre as leituras é a fé como resposta ativa à promessa de Deus, mesmo quando ela ainda não se concretizou plenamente.
Na primeira leitura, retirada do Livro da Sabedoria (Sb 18,6-9), recorda-se a noite da libertação do Egito, quando os hebreus confiaram na promessa de Deus e celebraram, antecipadamente, a salvação que ainda estava por vir: “Aquela noite fora previamente anunciada a nossos pais, para que, sabendo a que juramentos haviam dado crédito, se conservassem corajosos” (Sb 18,6). Aqui vemos uma fé operante, que transforma a espera em preparação, a promessa em ação.
Esse espírito de confiança e fidelidade está presente também em Abraão, figura central da segunda leitura, da Carta aos Hebreus (Hb 11,1-2.8-19). O autor define a fé como “a certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1) e oferece como exemplo a história de Abraão, que “partiu sem saber para onde ia” (Hb 11,8), confiando unicamente na promessa do Senhor. Mesmo sem ver a terra prometida ou compreender plenamente o plano de Deus, ele creu. Sua fé é feita de escuta e de obediência.
Essa fé confiante não é passiva, mas dinâmica. Ela exige perseverança e coragem. Foi pela fé que Sara concebeu, mesmo sendo estéril, porque “considerou fiel o autor da promessa” (Hb 11,11). E pela fé, Abraão esteve disposto até a sacrificar o próprio filho Isaac, porque sabia que Deus poderia ressuscitá-lo (cf. Hb 11,19). Esta confiança radical é a essência da nossa vida cristã.
No Evangelho segundo Lucas (Lc 12,32-48), Jesus convida seus discípulos a viverem como servos vigilantes, preparados para a vinda do Senhor: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro nos céus que não se acabe” (Lc 12,33). O Senhor nos chama a não colocar a confiança nas riquezas da terra, mas a direcionar nosso coração para o Reino.
Ele afirma: “Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar” (Lc 12,37). A vigilância aqui não é mero estado de alerta, mas uma atitude constante de fidelidade, prontidão e serviço. O servo fiel é
aquele que, mesmo na ausência do patrão, continua a cuidar com zelo daquilo que lhe foi confiado. O Senhor promete: “Em verdade vos digo, ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e passando os servirá” (Lc 12,37). Este gesto surpreendente mostra que a recompensa do servo vigilante é participar da própria alegria do Senhor.
A parábola nos ensina também a responsabilidade: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lc 12,48). A vigilância cristã não é apenas individual; ela tem uma dimensão comunitária e missionária. Somos chamados a cuidar uns dos outros, a estar atentos às necessidades do próximo, a ser fiéis administradores dos dons que recebemos.
Queridos irmãos e irmãs, somos peregrinos como Abraão, somos povo libertado como os hebreus, e somos servos vigilantes como aqueles que esperam o retorno do Senhor. A fé que nos anima não é resignada, mas ativa, generosa e atenta aos sinais do Reino.
Em um tempo marcado por tantas incertezas, somos convidados a reavivar a chama da esperança. Jesus nos diz: “Não tenhais medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32). Esta promessa é para todos nós, mesmo quando o caminho parecer longo ou difícil.
Que esta liturgia fortaleça em nós a fé que nos faz caminhar, a esperança que nos mantém vigilantes e a caridade que nos abre ao serviço. Que, ao celebrarmos esta Eucaristia, possamos também nós ser encontrados fiéis quando o Senhor vier.
Amém.
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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