Queridos irmãos e irmãs,
A Palavra de Deus deste 20º. Domingo do Tempo Comum nos provoca. Este domingo do tempo comum é celebrado nos lugares aonde se celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora no próprio dia 15 de agosto. Jesus diz no Evangelho (Lc 12,49): “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!”. Não é um Jesus “paz e amor” no sentido superficial, mas um Senhor que acende um fogo que transforma e purifica. Esse fogo é o Espírito Santo e a verdade do Evangelho, que não deixa ninguém neutro: ou se acolhe e se é transformado, ou se rejeita e se entra em conflito.
A primeira leitura, de Jeremias (Jr 38), nos mostra que anunciar a verdade de Deus tem um preço. Jeremias foi acusado de desanimar o povo e traí-lo, quando na verdade era fiel à missão que Deus lhe confiou. Por isso, foi lançado numa cisterna lamacenta para morrer. Mas Deus não o abandonou: por meio de um estrangeiro, o etíope Ebed-Melec, o profeta foi retirado e salvo. Aqui vemos que a fidelidade à Palavra pode nos colocar contra a opinião da maioria — mas Deus cuida de quem lhe é fiel.
O Salmo 39(40) coloca nos nossos lábios a experiência do salmista: “Esperei no Senhor com paciência, e Ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”. Jeremias podia rezar assim na cisterna, e nós também, nas nossas provações. Quem confia no Senhor, mesmo cercado de lama e perigo, será erguido e posto de pé.
Na segunda leitura (Hb 12,1-4), o autor da carta aos Hebreus nos lembra que não estamos sozinhos: somos cercados por uma “nuvem de testemunhas” — os santos que já correram a corrida da fé. E nos convida: “Corramos com perseverança, com os olhos fixos em Jesus”. Ele suportou a cruz por amor a nós, e, por isso, quando enfrentamos oposição por causa da fé, devemos resistir “até o sangue” se for necessário.
O Evangelho nos desafia ainda mais. Jesus avisa que o seu Evangelho pode causar divisões até dentro da família: “Pai contra filho, filho contra pai…” (Lc 12,53). Não porque Ele queira destruir relações, mas porque a verdade exige escolhas, e nem todos estão dispostos a segui-la. O fogo de Jesus queima a tibieza, ilumina as consciências e nos obriga a decidir.
Queridos irmãos, hoje o Senhor nos pergunta: estamos dispostos a enfrentar incompreensões e rejeições para sermos fiéis a Ele? Jeremias enfrentou; Jesus enfrentou; milhões de cristãos enfrentaram e enfrentam. O fogo que Ele quer acender é o da fé viva, que incomoda o mundo porque denuncia a mentira e a injustiça.
Peçamos hoje a graça de manter os olhos fixos em Jesus, mesmo quando o caminho for estreito e doloroso. E que o fogo do Espírito arda em nós, para que sejamos, como Jeremias, testemunhas firmes e fiéis até o fim.
Vinde, Espírito Santo, e acendei em nós o fogo do vosso amor!
+ Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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