Necessitamos continuamente de redescobrir o nosso lugar e o nosso papel no projeto que Deus tem para nós e para o mundo. A Palavra de Deus que a liturgia deste 19º Domingo do Tempo Comum nos propõe lembra-nos isso mesmo. Diz-nos que viver de braços cruzados, numa existência de comodismo e resignação, é malbaratar a vida. Deus precisa de nós, Deus conta conosco; quer-nos despertos, atentos, comprometidos com a construção de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz.
Na primeira leitura – Sb 18,6-9 – um “sábio” de Israel recorda a noite em que Deus libertou os hebreus da escravidão do Egito. Para os egípcios, foi uma noite de desolação e de morte; para os hebreus, foi uma noite de libertação e de glória. Os hebreus perceberam nessa noite, que caminhar com Deus e seguir as indicações que Ele deixa é fonte permanente de vida e de liberdade. É nessa direção que o “sábio” nos convida a construir a nossa vida. Toda a comunidade deve estar vigilante e fiel até a libertação. A leitura assegura aos descendentes dos justos dos tempos passados que experimentarão uma libertação semelhante à deles.
No Evangelho – Lc 12,32-48 – Jesus lembra aos discípulos que foram escolhidos para levar o projeto do Reino de Deus ao encontro do mundo. Devem, portanto, viver para o serviço do Reino. Nesse sentido, têm de estar sempre atentos e vigilantes, cumprindo a cada instante as tarefas que Deus lhes pede, servindo o Reino com humildade e simplicidade.
O Evangelho deste domingo lembra qual deve ser a atitude dos cristãos diante da fugacidade da riqueza e dos bens temporais. Inicia-se com uma exortação para que o “pequeno rebanho” não se amedronte diante dos desafios, pois o Pai lhe oferece o Reino. O Reino de Deus é o sonho de Jesus de uma sociedade justa e solidária, onde todos possam viver com a dignidade de filhos e filhas e como irmãos e irmãs, na fraternidade.
Dar “esmola” é ter “compaixão”. Dar esmola é ter compaixão – ou seja – sentir a dor do pedinte, é partilhar o que se tem. “Vender e dar esmola” é a atitude de quem se abre às necessidades dos irmãos, em vez de se fechar em si mesmo, confiando nas suas próprias riquezas.
Por meio de pequenas parábolas, o evangelista apresenta o tema da vigilância ativa e aberta ao futuro imprevisível, na espera do Senhor, o qual pode chegar a qualquer momento. A vigilância não conduz à acomodação, à
espera passiva, nem é sintoma de uma imagem negativa de Deus, como alguém que pune e castiga. Por isso, “estar com os rins cingidos” significa estar preparados para servir. As “lâmpadas acesas” iluminam o caminho por onde transitamos: trazem luz à “escuridão da vida!” O apelo é para estarmos acordados a fim de abrir a porta a quem chega; ou seja, estarmos prontos para as surpresas de Deus, que nos convida a sair de nós mesmos e nos movermos em direção aos outros.
A parábola do dono da casa é um insistente convite à vigilância. Quem está vigilante percebe a presença de Deus na própria vida. Ele pode chegar a qualquer hora, nas visitas habituais e na definita.
Na segunda leitura – Hb 11,1-2.8-19 – um “catequista” cristão anônimo propõe-nos Abraão e Sara como modelos de fé. Eles confiaram incondicionalmente em Deus e não hesitaram em caminhar ao encontro dos bens prometidos. Essa “aposta” trouxe-lhes frutos: ultrapassando as limitações e a caducidade da vida presente, puderam alcançar os bens eternos. O autor mostra que foi a fé que motivou os patriarcas e matriarcas da história da salvação à obediência aos planos divinos, lançando-se ao desconhecido. A fé aponta sempre para o futuro e não deixa a pessoa acomodar-se no presente e no individualismo.
Estejamos vigilantes. Vigilantes,
particularmente, quem tem responsabilidade na comunidade, na Igreja e na
sociedade. Aquele que governa é o primeiro que deve servir. A função da
autoridade é de servir. Serviço que começa pelo atendimento das
necessidades básicas, como o alimento cotidiano na hora certo, de modo
que todos tenham vida e dignidade. Estejamos vigilantes, em espírito de
serviço, guiando nosso coração para Deus, cujo Reino é o grande tesouro a
ser buscado. Em pleno Ano Jubilar, celebremos a vocação para a vida em
família, dedicando especial carinho aos pais, neste seu dia. Deus
abençoe a todos os pais na sua missão de santificar a sua família!
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá, PR
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