Celebramos, neste terceiro domingo de agosto de 2025, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora aos céus. A Assunção de Nossa Senhora é, para nós, causa de “inabalável esperança e consolo para o povo peregrino”: realizou-se nela o que esperamos que se realize em nós no fim dos tempos. As leituras rezam este mistério.
Na primeira leitura – Ap 11,19a; 12,1,3-6a.10ab – mostra que as visões do Apocalipse se exprimem numa linguagem codificada. Elas revelam que Deus arranca os seus fiéis de todas as formas de morte. Por transposição, a visão o sinal grandioso pode ser aplicada a Maria. O livro do Apocalipse foi composto no ambiente das perseguições que se abatiam sobre a jovem Igreja, ainda tão frágil. O profeta cristão evoca estes acontecimentos numa linguagem codificada, em que os animais terrificantes designam os perseguidores. A Mulher pode representar a Igreja, novo Israel, o que sugere o número doze (as estrelas). O seu nascimento é o do batismo que deve dar à terra uma nova humanidade. O Dragão é o perseguidor, que põe tudo em acção para destruir este recém-nascido. Mas o destruidor não terá a última palavra, pois o poder de Deus está em ação para proteger o seu Filho. Esta leitura, com as imagens da mulher, do sol, da lua e das estrelas, pode ser aplicada tanto à Maria quanto à Igreja nascente. Dois grandes sinais aparecem no céu: a mulher e o dragão, que simbolizam a eterna luta entre o bem e o mal. O dragão é a força opressora, obstáculo ao projeto de Jesus. Em Maria, o mal não deixou nenhuma mancha, e por Ela veio ao mundo o Salvador. Na verdade, a Virgem se torna imagem e modelo da Igreja exatamente por permanecer fiel aos caminhos e ensinamentos do Senhor. Proclamando esta mensagem na Assunção, reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus.
Na segunda leitura 1Cor 15,20-27a – apresenta que a Assunção é uma forma privilegiada de Ressurreição. Tem a sua origem na Páscoa de Jesus e manifesta a emergência de uma nova humanidade, em que Cristo é a cabeça, como novo Adão. A Carta aos Coríntios coloca, diante de nós, o alicerça da fé: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias do que morreram” (1Cor 15,20). Primeiro Cristo ressuscitou, depois todos os que crerem ressuscitarão!” Todo o capítulo 15 desta epístola é uma longa
demonstração da ressurreição. Na passagem escolhida para a festa da Assunção, o apóstolo apresenta uma espécie de genealogia da ressurreição e uma ordem de prioridade na participação neste grande mistério. O primeiro é Jesus, que é o princípio de uma nova humanidade. Eis porque o apóstolo o designa como um novo Adão, mas que se distingue absolutamente do primeiro Adão; este tinha levado a humanidade à morte, ao passo que o novo Adão conduz aqueles que o seguem para a vida. O apóstolo não evoca Maria, mas se proclamamos esta leitura na Assunção, é porque reconhecemos o lugar eminente da Mãe de Deus no grande movimento da ressurreição. A ressurreição de Cristo é a certeza da nossa vitória. Se o estrago do “pecado de Adão” foi grande, a vitória de Jesus supera a própria morte.
O Evangelho desta solenidade – Lc 1,39-56 – apresenta o cântico de Maria descreve o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, que ele prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja, para todos os tempos. Pela Visitação que teve lugar na Judeia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra. Pela Dormição e pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva. Nesta festa, com Maria, proclamamos a obra grandiosa de Deus, que chama a humanidade a se juntar a ele pelo caminho da ressurreição. Em Maria, Ele já realizou a sua obra na totalidade; com ela, nós proclamamos: "dispersou os soberbos, exaltou os humildes". Os humildes são aqueles que crêem no cumprimento das palavras de Deus e se põem a caminho, aqueles que acolhem até o mais íntimo do seu ser a Vida nova, Cristo, para o levar ao nosso mundo. Deus debruça-se sobre eles e cumpre neles maravilhas.
O Evangelho apresenta duas mulheres que se encontram e partilham a vida e a alegria do apoio mútuo. Elas carregam no ventre dois filhos, que mudarão a história da humanidade. Isabel proclama Maria bem-aventurada porque esta acreditou no que o Senhor lhe prometeu. Maria proclama a grandeza de Deus, que fez grandes coisas em seu favor e exalta os pobres, dispersa os soberbos e derruba os poderosos.
Maria é a “bendita entre todas as mulheres”, escolhida por Deus mesmo para ser canal da graça e salvação. O Magnificat é a síntese da expressão de júbilo de todo o povo de Israel pelas maravilhas realizadas por Deus ao longo da história da salvação!
Jamais poderíamos dispensar a presença materna de Nossa Senhora. Porque nós não passamos de eternas crianças à procura do amadurecimento da fé, necessitamos de amparo e afeto. A Assunção de Nossa Senhora ao céu é a conclusão lógica da vida e Maria, assim como é a meta final de nossa pequena história, desfecho inevitável dos que caminham na esperança e na fé. Meta daqueles que guardaram o mandamento do amor em plena felicidade. A Assunção é a promessa para todos que a nossa vocação é entrar no céu. Nossa Senhora da Assunção ou da Glória – tendo entrado em corpo e alma no céu – convida-nos, hoje a desejar o Céu. Abandonemos o “espírito do mundo” e aspiremos as coisas do Céu. O Céu é o nosso destino, por isso devemos abandonar o pecado e viver na santidade a exemplo da Santíssima Virgem Maria!
Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que “guardava e meditava no seu coração” os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se acção de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: “que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!”
+ Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringa, PR
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