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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

Semana Nacional da Família: berço da vida e santuário do amor

 Celebrar a Semana Nacional da Família é voltar o olhar e o coração para a base de toda a sociedade: a família. Desde 1992, por iniciativa da Comissão Nacional da Pastoral Familiar da CNBB, somos convidados, todos os anos no mês de agosto, a viver intensamente essa semana como um tempo de graça, de escuta, de renovação e de compromisso com as famílias do nosso país.

No contexto do Ano Santo de 2025, proclamado pelo Papa Francisco como Jubileu da Esperança, essa celebração assume um valor ainda mais profundo. A família cristã é, por excelência, espaço de esperança. Em meio aos desafios do mundo contemporâneo — marcados por crises econômicas, relativismo moral, violência e isolamento —, a família continua sendo o lugar onde a fé é transmitida, o amor é experimentado e a dignidade da vida é respeitada.

Neste ano, o tema proposto — Família, fonte de vocações — remete diretamente à consciência de que a vida cristã nasce na experiência familiar. Antes de sermos chamados ao sacerdócio, à vida religiosa, ao matrimônio ou a outras formas de serviço, somos gerados, amados, educados e sustentados por uma família. O primeiro chamado que recebemos vem do seio familiar, onde aprendemos a escutar, discernir e responder ao Senhor.

Ao longo da história bíblica, vemos como Deus age por meio das famílias. Desde Abraão e Sara, pais da fé, até José e Maria, pais do Salvador, a família sempre foi cooperadora do plano divino. Jesus, que poderia ter vindo ao mundo de forma espetacular, escolheu nascer em uma casa simples, em Nazaré. Viveu em obediência a seus pais terrenos e cresceu “em sabedoria, estatura e graça” (Lc 2,52). A casa de Nazaré é modelo para todas as famílias cristãs: lugar de silêncio, de oração, de trabalho e de entrega amorosa.

Sabemos, porém, que muitas famílias hoje vivem feridas: pelo desemprego, pela violência doméstica, pela dependência química, pela ausência dos pais, pelo abandono dos idosos, entre tantas outras realidades. Por isso, a Semana Nacional da Família não pode ser apenas uma ocasião festiva. É também um chamado à solidariedade, ao acolhimento, à escuta e à missão. Como Igreja, precisamos ir ao encontro das famílias feridas, cansadas, desanimadas. Devemos ser como o bom samaritano, que desce do seu cavalo, se compadece e cuida das feridas (cf. Lc 10,25-37).

Essa semana também nos desafia a fortalecer a Pastoral Familiar em nossas paróquias e comunidades. Não podemos nos limitar a ações esporádicas. É preciso caminhar com as famílias, oferecer formação contínua, apoiar os casais em crise, acolher os divorciados em nova união, escutar os jovens e acompanhar os idosos. O amor de Cristo deve ser anunciado e vivido dentro das casas, nos almoços de domingo, nas orações noturnas, nas conversas familiares.

O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado, tem insistido que as famílias são protagonistas da evangelização. Ele nos recorda que "o futuro da humanidade passa pela família" (AL, 31). Uma Igreja sinodal e missionária começa em lares evangelizados. Pais que rezam com seus filhos, avós que transmitem a fé, casais que vivem o sacramento do matrimônio com alegria e fidelidade: esses são os verdadeiros missionários do nosso tempo.

Convido, portanto, todas as dioceses, paróquias e comunidades a viverem esta Semana Nacional da Família com intensidade e criatividade. Que não faltem momentos de oração, celebrações, encontros formativos, bênçãos nas casas, partilhas e testemunhos. Cada gesto, por menor que pareça, pode reacender a esperança em um coração ferido.

Termino esta reflexão recordando que a Sagrada Família de Nazaré não foi poupada do sofrimento. Tiveram que fugir para o Egito, enfrentaram o medo, a pobreza, a insegurança. Mas nunca faltou o amor, a confiança em Deus e a presença silenciosa da graça. Que essa mesma graça fortaleça todas as famílias neste tempo. Que cada lar se torne uma pequena Igreja doméstica, onde Cristo é amado, servido e anunciado.

+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

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