Celebrar a Semana Nacional da Família é voltar o olhar e o coração para a base de toda a sociedade: a família. Desde 1992, por iniciativa da Comissão Nacional da Pastoral Familiar da CNBB, somos convidados, todos os anos no mês de agosto, a viver intensamente essa semana como um tempo de graça, de escuta, de renovação e de compromisso com as famílias do nosso país.
No contexto do Ano Santo de 2025, proclamado pelo Papa Francisco como Jubileu da Esperança, essa celebração assume um valor ainda mais profundo. A família cristã é, por excelência, espaço de esperança. Em meio aos desafios do mundo contemporâneo — marcados por crises econômicas, relativismo moral, violência e isolamento —, a família continua sendo o lugar onde a fé é transmitida, o amor é experimentado e a dignidade da vida é respeitada.
Neste ano, o tema proposto — Família, fonte de vocações — remete diretamente à consciência de que a vida cristã nasce na experiência familiar. Antes de sermos chamados ao sacerdócio, à vida religiosa, ao matrimônio ou a outras formas de serviço, somos gerados, amados, educados e sustentados por uma família. O primeiro chamado que recebemos vem do seio familiar, onde aprendemos a escutar, discernir e responder ao Senhor.
Ao longo da história bíblica, vemos como Deus age por meio das famílias. Desde Abraão e Sara, pais da fé, até José e Maria, pais do Salvador, a família sempre foi cooperadora do plano divino. Jesus, que poderia ter vindo ao mundo de forma espetacular, escolheu nascer em uma casa simples, em Nazaré. Viveu em obediência a seus pais terrenos e cresceu “em sabedoria, estatura e graça” (Lc 2,52). A casa de Nazaré é modelo para todas as famílias cristãs: lugar de silêncio, de oração, de trabalho e de entrega amorosa.
Sabemos, porém, que muitas famílias hoje vivem feridas: pelo desemprego, pela violência doméstica, pela dependência química, pela ausência dos pais, pelo abandono dos idosos, entre tantas outras realidades. Por isso, a Semana Nacional da Família não pode ser apenas uma ocasião festiva. É também um chamado à solidariedade, ao acolhimento, à escuta e à missão. Como Igreja, precisamos ir ao encontro das famílias feridas, cansadas, desanimadas. Devemos ser como o bom samaritano, que desce do seu cavalo, se compadece e cuida das feridas (cf. Lc 10,25-37).
Essa semana também nos desafia a fortalecer a Pastoral Familiar em nossas paróquias e comunidades. Não podemos nos limitar a ações esporádicas. É preciso caminhar com as famílias, oferecer formação contínua, apoiar os casais em crise, acolher os divorciados em nova união, escutar os jovens e acompanhar os idosos. O amor de Cristo deve ser anunciado e vivido dentro das casas, nos almoços de domingo, nas orações noturnas, nas conversas familiares.
O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado, tem insistido que as famílias são protagonistas da evangelização. Ele nos recorda que "o futuro da humanidade passa pela família" (AL, 31). Uma Igreja sinodal e missionária começa em lares evangelizados. Pais que rezam com seus filhos, avós que transmitem a fé, casais que vivem o sacramento do matrimônio com alegria e fidelidade: esses são os verdadeiros missionários do nosso tempo.
Convido, portanto, todas as dioceses, paróquias e comunidades a viverem esta Semana Nacional da Família com intensidade e criatividade. Que não faltem momentos de oração, celebrações, encontros formativos, bênçãos nas casas, partilhas e testemunhos. Cada gesto, por menor que pareça, pode reacender a esperança em um coração ferido.
Termino esta reflexão recordando que a Sagrada Família de Nazaré não foi poupada do sofrimento. Tiveram que fugir para o Egito, enfrentaram o medo, a pobreza, a insegurança. Mas nunca faltou o amor, a confiança em Deus e a presença silenciosa da graça. Que essa mesma graça fortaleça todas as famílias neste tempo. Que cada lar se torne uma pequena Igreja doméstica, onde Cristo é amado, servido e anunciado.
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Comentários
Postar um comentário