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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

Mês da Bíblia 2025: A Palavra que sustenta nossa esperança

Chegamos a mais um mês de setembro, tempo especial para a Igreja no Brasil. Desde 1971, este mês se tornou ocasião privilegiada para aprofundarmos nosso amor pela Sagrada Escritura, promovendo em nossas comunidades momentos de estudo, oração e celebração em torno da Palavra de Deus. O chamado “Mês da Bíblia” nasceu para aproximar ainda mais o povo da Palavra, ajudando cada cristão a perceber que a Bíblia não é um livro distante, mas fonte de vida e alimento para a caminhada.

Em 2025, nosso olhar se volta para a Carta aos Romanos, obra profunda do apóstolo Paulo e uma das expressões mais ricas da fé cristã primitiva. O lema escolhido — “A esperança não decepciona” (Rm 5,5) — nos coloca diante de uma verdade que atravessa os séculos e chega até nós com força renovada. É o Espírito Santo, derramando o amor de Deus em nossos corações, que faz com que possamos esperar sem medo de ser enganados.

Quando falamos de esperança, não nos referimos a uma ilusão ou a um simples desejo de que as coisas melhorem. Para o cristão, esperança é certeza: sabemos que Deus é fiel e que Sua promessa não falha. Paulo escreve aos cristãos de Roma que viviam em meio a tensões sociais e perseguições, para dizer-lhes que, apesar das dificuldades, eles não estavam sozinhos. O amor de Deus os sustentava, e essa mesma convicção deve sustentar também a nós, hoje.

Quantos de nossos irmãos e irmãs se encontram sem esperança! Famílias desestruturadas, jovens que não encontram perspectivas, trabalhadores que sofrem com o desemprego, idosos abandonados, pessoas vítimas da violência e da pobreza. Muitas vezes a tentação do desânimo bate à porta. Mas a Palavra de Deus, neste Mês da Bíblia, nos recorda: “a esperança não decepciona”. Não porque confiamos em nossas forças, mas porque confiamos em Deus que é fiel.

O Papa Leão XIV, neste Jubileu de 2025, tem insistido em que a Igreja seja testemunha de esperança em um mundo fragmentado. Ele nos lembra que, se a esperança vem de Deus, deve se traduzir em compromisso concreto com os irmãos. Celebrar a Palavra, portanto, não pode ficar apenas no estudo intelectual ou na devoção íntima: deve tornar-se prática de vida. A esperança cristã se manifesta em gestos de solidariedade, em palavras de conforto, em ações que promovem dignidade e paz.

Ao olharmos para nossas comunidades, percebemos que a Palavra de Deus é força capaz de unir, de curar feridas e de apontar novos caminhos. Quantos grupos de círculos bíblicos, de leitura orante e de estudo comunitário se reúnem mês após mês, encontrando na Bíblia luz para discernir suas vidas! A Carta aos Romanos, em particular, nos ajuda a compreender que a fé não se reduz a normas ou tradições, mas é vida nova no Espírito, que nos dá coragem para seguir em frente.

A esperança que Paulo anuncia não ignora o sofrimento. Pelo contrário, ele mesmo afirma que a tribulação produz perseverança, a perseverança produz virtude provada, e a virtude provada gera esperança (cf. Rm 5,3-4). É um caminho pedagógico: não se trata de negar a dor, mas de descobrir, dentro dela, a presença de Deus que fortalece. Essa é uma mensagem profundamente atual para nosso povo, que não raro enfrenta tantas cruzes no dia a dia.

No Brasil, o Mês da Bíblia sempre foi oportunidade de crescimento espiritual e comunitário. Em cada ano, ao escolhermos um livro ou carta da Escritura para estudar, damos um passo a mais no caminho da maturidade da fé. Em 2025, ao mergulharmos na Carta aos Romanos, aprendemos que não estamos sozinhos em nossas lutas. A esperança não decepciona porque não depende da economia, da política ou de nossos planos, mas do amor eterno de Deus.

Por isso, é urgente que cada paróquia, cada grupo de família, cada pastoral e movimento se empenhe em colocar a Bíblia no centro de suas atividades. Ler a Carta aos Romanos em grupo, rezar com ela, partilhar experiências de vida à luz da Palavra: tudo isso fortalece nossa fé e nos torna testemunhas mais autênticas. É na escuta fiel da Palavra que descobrimos forças para não desanimar e coragem para anunciar o Evangelho com alegria.

Também nossa liturgia neste mês deve ser vivida com renovado fervor. Ao proclamar a Palavra nas celebrações, ao cantar os salmos, ao meditar o Evangelho, aprendemos que a esperança não é sentimento vago, mas graça que sustenta a caminhada cristã. Cada missa, cada encontro de oração, cada celebração comunitária torna-se ocasião para reavivar em nós a chama da esperança.

É importante destacar que a esperança cristã não nos fecha em nós mesmos. Pelo contrário, ela nos abre aos outros. Quando acreditamos que Deus não falha, somos chamados a ser presença de esperança no mundo: visitar os doentes, consolar os aflitos, apoiar os que sofrem, lutar pela

justiça. Uma Igreja da esperança é aquela que não cruza os braços diante da dor, mas caminha junto com os que choram e sofre com os que sofrem.

Queridos irmãos e irmãs, o Mês da Bíblia 2025 nos convida a fazer da Palavra a lâmpada que ilumina nossos passos. Que cada cristão assuma o compromisso de não deixar a Bíblia fechada em uma estante, mas aberta em seu coração e em sua vida. Que cada comunidade redescubra a alegria de partilhar a Palavra e de anunciar, com gestos e palavras, que “a esperança não decepciona”.

Peçamos à Virgem Maria, mulher da esperança e da fidelidade, que interceda por nós. Que ela nos ensine a confiar nas promessas de Deus, mesmo quando tudo parece perdido, e a perseverar na fé até que a esperança se transforme em plena realização na vida eterna.

+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

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