Queridos irmãos e irmãs,
Neste 27º Domingo do Tempo Comum, a Liturgia da Palavra nos coloca diante de um pedido que deve ser também o nosso: “Senhor, aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5). Esse clamor dos apóstolos resume bem a experiência humana: diante das dificuldades da vida, da violência do mundo e até mesmo de nossas próprias limitações, percebemos como nossa fé é pequena. E, no entanto, é justamente esta fé — dom recebido de Deus — que nos sustenta, que nos dá vida, que nos permite caminhar no meio das trevas.
A primeira leitura, tirada do profeta Habacuc, parece escrita para os nossos dias. Ele se volta para Deus em súplica: “Até quando, Senhor, clamarei, sem que me ouças? Gritarei a ti: ‘Violência!’, sem que me salves?” (Hab 1,2). Quantos de nós também levantamos essa pergunta diante das notícias de guerras, da violência nas cidades, da corrupção, do desprezo pelos pobres e indefesos! É a pergunta do justo que sofre. Mas a resposta de Deus é firme: “O justo viverá pela sua fé” (Hab 2,4). Não é pelo poder, pela força ou pela esperteza que se vence o mal, mas pela fé que permanece fiel em meio às provações.
O Salmo 94 retoma essa mesma ideia, dizendo: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os vossos corações” (Sl 94,7-8). A fé é, antes de tudo, abrir o coração para escutar a voz do Senhor, mesmo quando essa voz nos pede perseverança no deserto, como aconteceu com Israel. O povo no deserto fechou o coração e duvidou, mas o salmo nos chama a confiar: “Vinde, adoremos e prostremo-nos em terra, e ajoelhemos diante do Deus que nos criou” (Sl 94,6).
São Paulo, em sua segunda carta a Timóteo – 2Tm 1,6-8.13-14 –, retoma esse convite à confiança. Ele lembra a seu discípulo: “Exorto-te a reavivar o dom de Deus que recebeste pela imposição de minhas mãos” (2Tm 1,6). Esse dom é a fé, o Espírito Santo que habita em nós desde o batismo e que precisa ser constantemente reavivado. E Paulo acrescenta algo fundamental: “Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria” (2Tm 1,7). Quantas vezes, diante das dificuldades, pensamos que nossa fé é frágil, que não daremos conta! Mas a
Palavra hoje nos recorda que o Espírito que recebemos não é de medo, mas de coragem e amor.
No Evangelho, os apóstolos pedem: “Senhor, aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5). E Jesus responde com uma imagem surpreendente: “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria” (Lc 17,6). O grão de mostarda é pequeno, quase imperceptível, mas vivo. Assim é a fé verdadeira: talvez pequena aos olhos humanos, mas cheia de vida e enraizada em Deus, capaz de mover o impossível.
Mas Jesus vai além. Ele conta a parábola do servo que, depois de ter feito o que devia, não exige reconhecimento, mas apenas cumpre o seu dever. E conclui: “Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’” (Lc 17,10). Essa palavra é um grande antídoto contra o orgulho e a tentação de achar que merecemos recompensas diante de Deus. Na verdade, tudo é graça. Servir ao Senhor e aos irmãos já é, por si só, a nossa recompensa.
Queridos irmãos e irmãs, o mundo de hoje nos convida constantemente ao contrário: à busca de prestígio, poder, aplausos, vaidade. Mas o Evangelho nos recorda que o verdadeiro discípulo é aquele que serve sem esperar nada em troca. A fé nos coloca na verdade de que Deus é tudo, e nós somos apenas instrumentos. O amado e prudente Papa Leão XIV nos recorda em suas catequeses recentes que a fé verdadeira é humilde, perseverante e profundamente ligada ao amor que se expressa em obras concretas de serviço.
Diante dessa Palavra, somos chamados a três atitudes neste domingo:
1. Reavivar a fé, mesmo pequena, mas viva, confiando que Deus age no silêncio da história.
2. Escutar a voz do Senhor, sem fechar o coração, mesmo quando as provações parecem longas.
3. Servir com humildade, lembrando que tudo o que temos e fazemos é dom da graça de Deus.
Somos chamados a viver intensamente este mês das missões e do rosário. Somos todos missionários e devemos anunciar a esperança cristã a todos os homens e mulheres de boa vontade! Anunciemos Cristo e o seu Evangelho a todos e em todas as circunstâncias.
Por isso, irmãos, rezemos juntos como os apóstolos: “Senhor, aumenta a nossa fé!”. Que ela, mesmo pequena como o grão de mostarda, seja viva e verdadeira. Que nossa vida seja marcada não pela busca de glória, mas pelo serviço humilde. E que, firmes na fé, possamos atravessar as tribulações da história, certos de que “o justo viverá pela fé” (Hab 2,4). Amém.
+ Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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