Queridos irmãos e irmãs, no passado dia 3 de outubro demos início à nossa novena em honra a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. São nove dias de oração, de meditação e de encontro com Deus, que culminarão na grande festa de 12 de outubro, quando todo o país se volta para esta Mãe amorosa que há mais de três séculos acompanha o nosso povo.
A história de Aparecida nasce em águas turvas e difíceis, quando pescadores simples, cansados de lançar as redes sem sucesso, encontram uma pequena imagem da Virgem Maria. Que mensagem poderosa este episódio nos transmite! Assim como aqueles homens que experimentavam o peso do fracasso, também nós tantas vezes nos sentimos sem forças, frustrados, sem perspectivas. E é justamente nesse cenário de limite humano que Deus se revela. Ele nos mostra que, quando tudo parece perdido, Maria aparece como sinal de esperança, conduzindo-nos ao Cristo, que é a verdadeira luz para nossa vida.
Ao longo dos séculos, o povo brasileiro se reconheceu nesta imagem partida e depois restaurada. Somos um povo marcado pela mistura de raças, pela luta por sobrevivência, pela desigualdade que insiste em nos ferir, mas também pela fé que nunca se apaga. Diante de Maria, apresentamos nossas fragilidades e pedimos que, como Mãe, nos ajude a permanecer unidos, solidários e esperançosos.
O tempo da novena é um convite à conversão. Maria não é uma meta em si mesma, mas a primeira discípula que nos conduz ao seu Filho. Em Caná, ela disse: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Hoje, o Brasil também precisa escutar este chamado. Não basta apenas pedir graças, é necessário abrir o coração ao Evangelho, deixar-se transformar pela Palavra e comprometer-se com a vida do próximo. A devoção mariana autêntica não se limita ao culto, mas se expressa em atitudes concretas de justiça, caridade e fraternidade.
Vivemos em um país repleto de desafios. A violência cresce e assusta as famílias; a pobreza e a fome ainda atingem milhões de pessoas; a corrupção mina a confiança no futuro; o individualismo ameaça a solidariedade. Diante dessas realidades, é preciso recordar que a fé cristã não nos afasta da história, mas nos impulsiona a transformá-la. Maria, mulher humilde e atenta às necessidades dos outros, nos ensina a ser Igreja presente no meio do povo, comprometida com os pequenos, firme na defesa da vida desde a concepção até a velhice, promotora da paz e da reconciliação.
Ao iniciar esta novena, somos chamados a assumir três atitudes fundamentais:
1. Reacender a fé – não como devoção vazia, mas como encontro real com Jesus Cristo, Senhor de nossas vidas.
2. Reforçar a esperança – acreditando que Deus não abandona seu povo e que, com Maria, podemos superar as dores e divisões do presente.
3. Viver a caridade – tornando nossa devoção em gestos concretos de amor ao próximo, de solidariedade com os que sofrem, de construção de um Brasil mais justo e fraterno.
Que cada dia desta novena seja um passo nesse caminho. Que a Mãe Aparecida, encontrada no fundo do rio, nos ajude a reencontrar a nós mesmos, a reconstruir nossas famílias, a restaurar a paz em nossas comunidades e a fortalecer a fé em nossa nação.
Com confiança filial, coloquemos diante dela nossas dores e alegrias, nossas feridas e esperanças. E que, ao celebrarmos a sua festa, possamos também renovar nosso compromisso de discípulos missionários de Cristo, levando ao mundo a luz do Evangelho e a ternura de Deus.
Amém.
Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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