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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

O Clamor de Bartimeu e o Caminho da Fé: Reflexão sobre o 30º Domingo do Tempo Comum (Ano B)


No 30º Domingo do Tempo Comum, o Evangelho (Mc 10,46-52) nos apresenta a tocante história de Bartimeu, um cego mendigo que encontra a cura e transformação ao colocar sua fé em Jesus. Esta passagem não é apenas um relato de uma cura física, mas também uma poderosa lição sobre a importância da fé e do seguimento a Cristo.

Bartimeu, sentado à beira do caminho em Jericó, ouve que Jesus está passando e, com toda a sua força, grita: "Filho de Davi, tem piedade de mim!" (Mc 10,47). Esse grito é mais do que um simples pedido de cura; é a expressão de uma fé profunda e de uma esperança renovada. Bartimeu reconhece que, em Jesus, está a sua única chance de libertação, tanto física quanto espiritual.

Muitas vezes, nós também nos encontramos à margem, em momentos de escuridão e solidão. Assim como Bartimeu, somos convidados a clamar por Jesus, confiando que Ele ouve nossos apelos e responde ao nosso desejo de cura e libertação. Essa fé encontra ressonância na primeira leitura do dia, em Jeremias 31,7-9, onde o profeta anuncia que Deus reunirá Seu povo e trará de volta os cegos e aleijados, cuidando deles com ternura e misericórdia.

Ouvindo o clamor de Bartimeu, Jesus para e pede que o chamem até Ele. "Chamem-no" (Mc 10,49), diz Jesus. Este é um detalhe importante: Jesus sempre responde ao clamor daqueles que O buscam com fé. No entanto, Ele nos convida a dar um passo à frente, a nos movermos em direção a Ele com confiança.

Bartimeu, sem hesitar, joga fora seu manto e corre até Jesus. Este gesto simboliza o abandono de tudo o que o mantinha preso, em especial sua antiga vida. Muitas vezes, também precisamos deixar para trás nossos "mantos" – nossas inseguranças, medos e pecados – para nos aproximarmos de Cristo e recebermos Dele a cura que tanto necessitamos.

Quando Jesus pergunta: "O que queres que eu te faça?" (Mc 10,51), Bartimeu responde com clareza: "Mestre, que eu veja!" Ele não hesita em expressar sua fé e desejo, confiando plenamente que Jesus pode restaurá-lo. Jesus, por sua vez, confirma a fé de Bartimeu: "Vai, a tua fé te salvou" (Mc 10,52). Aqui, vemos como a fé verdadeira não apenas clama por ajuda, mas também age com confiança na presença de Cristo.

Depois de ser curado, Bartimeu não retorna à sua antiga vida, mas segue Jesus pelo caminho (Mc 10,52). Este seguimento é a prova de que sua cura não foi apenas física, mas também espiritual. A partir daquele momento, Bartimeu torna-se um verdadeiro discípulo, movido pela fé que transformou sua vida.

Na segunda leitura, da Carta aos Hebreus (Hb 5,1-6), vemos Jesus como o sumo sacerdote que oferece Sua própria vida por amor a nós. O seguimento de Jesus implica em acolher esse sacrifício e viver uma vida de serviço e entrega aos outros, assim como Bartimeu foi chamado a fazer após sua cura.

O Evangelho deste domingo nos desafia a refletir sobre nossa própria fé. Estamos buscando Jesus com a mesma intensidade de Bartimeu? Estamos dispostos a deixar nossos "mantos" e seguir o chamado de Cristo, mesmo que isso implique em mudanças significativas em nossa vida? A fé que cura e salva é aquela que se expressa não apenas em palavras, mas em uma disposição para seguir Jesus, confiando plenamente em Sua misericórdia e poder.

Assim como Bartimeu, também somos convidados a buscar Jesus com todo o nosso coração, sabendo que Ele nos escuta e está sempre pronto para nos curar e nos guiar no caminho da vida.

Bartimeu nos ensina que o primeiro passo para a cura é reconhecer nossa própria cegueira e buscar em Jesus a verdadeira luz. Ao responder ao nosso clamor de fé, Jesus nos chama não apenas à cura, mas também ao seguimento, a uma vida nova transformada pela graça. Que, neste 30º Domingo do Tempo Comum, possamos ter a coragem de buscar a cura em Cristo e, uma vez transformados por Ele, nos tornarmos fiéis discípulos que seguem Seu caminho de salvação.

+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

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