“Eis que subimos a Jerusalém” (Mt 20,18)
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Hoje entramos na Semana Santa, o coração do ano litúrgico, o tempo mais sagrado de nossa fé. Uma semana em que os céus se curvam sobre a terra, e Deus se aproxima de nós no mistério de sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Jesus mesmo nos diz:
“Eis que subimos a Jerusalém” (Mt 20,18).
Não subimos para uma festa qualquer. Subimos com Ele ao Calvário. E subimos para contemplar o mistério do amor mais profundo que já existiu: um Deus que morre por nós.
A semana do amor até o fim
A Semana Santa é a semana do amor levado até as últimas consequências.
Não é apenas a memória de um sofrimento antigo. É a atualização do maior gesto de salvação da humanidade.
Jesus não morreu “há dois mil anos”. Ele morre por nós hoje, cada vez que nos unimos a Ele nesta celebração.
São João nos recorda:
“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
Este “fim” é a cruz. É o abandono. É o silêncio da morte. Mas também é a vitória do amor.
Cristo se entrega, não como vencido, mas como vencedor. Ele não é arrastado para a cruz. Ele a abraça, porque ali está o trono do Rei Salvador.
Cada dia, um passo no caminho da salvação
Na Semana Santa, somos convidados a acompanhar Jesus em cada etapa:
– No Domingo de Ramos, Ele entra em Jerusalém montado num jumentinho. O povo o aclama como rei, mas em breve gritará “Crucifica-o!”.
A alegria dá lugar à traição. A glória aparente revela o caminho do sofrimento.
– Na Segunda e Terça-feira, vemos Jesus confrontar os poderosos do templo e anunciar o juízo de Deus. Ele purifica o coração de sua casa, e nos convida à conversão.
– Na Quarta-feira, celebramos a dor da traição. Judas vende seu Mestre por trinta moedas. E quantas vezes nós também traímos o amor de Deus por muito menos?
– Na Quinta-feira Santa, Jesus se ajoelha diante dos discípulos e lava seus pés. Depois, entrega o seu Corpo e Sangue como alimento de vida eterna.
Nasce ali a Eucaristia, o sacerdócio, e o mandamento do amor.
– Na Sexta-feira Santa, o altar se cala. A Igreja se veste de luto. O Senhor é erguido na cruz.
Mas não há revolta, apenas entrega. Ele morre dizendo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
– No Sábado Santo, o silêncio toma conta de tudo. É o dia da espera, da vigília, da fé sem sinais.
Mas na escuridão da noite, explode a luz da Ressurreição: Cristo venceu a morte!
E com Ele, todos os que crerem vencerão também.
E nós? O que faremos com esta semana?
Irmãos e irmãs, não deixemos esta semana passar como qualquer outra.
Ela não é tempo de descanso, mas de recolhimento.
Não é tempo de agitação, mas de escuta profunda.
Não é tempo de compras ou lazer, mas de oração e silêncio.
A Semana Santa nos convida a:
– Rezar mais profundamente.
– Participar das liturgias com o coração aberto.
– Confessar nossos pecados e nos reconciliar com Deus.
– Praticar a caridade com quem sofre.
– Renovar o nosso amor por Jesus, que nos amou até a cruz.
Conclusão: Subamos com Jesus a Jerusalém
“Eis que subimos a Jerusalém...”
Subamos com Jesus.
Não apenas com os lábios, mas com o coração.
Não apenas para vê-Lo sofrer, mas para sofrer com Ele.
Não apenas para chorar Sua morte, mas para viver Sua ressurreição.
Quem atravessa a cruz com Jesus, encontra a vida verdadeira.
Quem entra com Ele na Semana Santa, sairá com Ele na manhã da Páscoa.
Abramos o coração. Coloquemo-nos no caminho.
Jesus está passando. Vamos com Ele.
A cruz nos espera. Mas depois da cruz, vem a glória!
Seja esta semana santa de verdade para todos nós.
Amém.
+Anuar Battisti Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
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