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Mostrando postagens de setembro, 2025

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Dom Anuar Batisti
Formado em filosofia no Paraná e em teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Dom Anuar Battisti é Arcebispo Emérito de Maringá (PR). Em 15 de abril de 1998, por escolha do papa João Paulo II, foi nomeado bispo diocesano de Toledo, sendo empossado no mesmo dia da ordenação episcopal, em 20 de junho daquele ano. Em 2009 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, um dos mais importantes, concedidos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em 2007, foi presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Sagrada, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2015, foi membro do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e, ainda na CNBB, foi delegado suplente. No Conselho Episcopal Latino-Americano atuou como Presidente do Departamento das Vocações e Ministérios, até 2019.

Homilia – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Queridos irmãos e irmãs, A liturgia deste 26º Domingo do Tempo Comum nos chama com força à coerência da fé. O profeta Amós abre nossa reflexão denunciando a complacência dos que vivem no conforto e se esquecem da justiça. Ele diz: “Ai dos que vivem despreocupados em Sião, deitados em leitos de marfim, banqueteando-se com cordeiros do rebanho e bezerros do estábulo” (Am 6,1.4). O problema não está apenas em ter bens, mas em fechar os olhos diante do sofrimento do irmão. É a denúncia de uma vida que se refugia no luxo e se torna cega à dor do próximo. O salmo de hoje nos convida a colocar nossa confiança somente em Deus: “Não ponhais vossa fé nos poderosos, num homem que não pode salvar” (Sl 145,3). Ele nos recorda que apenas o Senhor é fiel para sempre, defende o oprimido, dá pão aos famintos, liberta os cativos e sustenta o órfão e a viúva. É exatamente essa imagem do Deus da justiça e da compaixão que ilumina a parábola do Evangelho: enquanto o rico fechou os olhos para ...

O testemunho do Beato Padre Victor e a santidade que nasce do povo

Celebramos neste ano de 2025 os 120 anos da Páscoa do Beato Francisco de Paula Victor, sacerdote que marcou profundamente a cidade de Três Pontas, MG, e cujo testemunho de fé e serviço continua a iluminar o Brasil. Não pretendo aqui repetir sua biografia, tão conhecida e já celebrada em muitos lugares, mas refletir sobre aquilo que sua vida nos ensina como mensagem perene para a Igreja de hoje. Quando a Igreja reconhece a santidade de um de seus filhos, ela não apenas enaltece uma pessoa. Ela reconhece que o Espírito Santo age no meio do povo, em situações concretas da história. O Brasil, terra de contrastes, desigualdades e também de fé viva, tem visto nascer figuras luminosas que nos recordam que a santidade não é privilégio de poucos, mas vocação de todos. Entre os beatos e beatas reconhecidos em nosso país, encontramos homens e mulheres, religiosos e leigos, jovens e adultos, mártires e missionários. Cada um traz uma mensagem particular, mas todos convergem para a mes...

São Pio de Pietrelcina: Entre Sofrimento e Santidade

Ao meditarmos sobre a vida e a santidade de São Pio de Pietrelcina, não basta deter-nos apenas nos fatos extraordinários que marcaram sua existência: os estigmas, os dons espirituais, a fama mundial que o acompanhou em vida e após a morte. Se fizermos isso, corremos o risco de olhar apenas para o exterior e de perder o essencial: a mensagem que sua vida encarnou para a Igreja e para o mundo. O que Padre Pio nos ensina, em última instância, é que o ser humano é chamado a participar do mistério da cruz de Cristo, e que é precisamente no sofrimento aceito com fé que a vida alcança sentido mais profundo. Vivemos em uma cultura que rejeita a dor, que busca a todo custo anestesiar as fragilidades e exaltar uma felicidade passageira, muitas vezes superficial. No entanto, São Pio nos recorda que não há amor verdadeiro sem entrega, não há vida cristã autêntica sem cruz. Ele foi um sinal vivo de que o mistério pascal não é apenas uma doutrina a ser crida, mas uma realidade a ser ex...

Servir a Deus partilhando tudo o que temos e somos!

Que valores devem servir de base ao nosso projeto de vida? Que escolhas devemos fazer para que a nossa existência não seja desperdiçada? A liturgia deste vigésimo quinto domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir sobre estas questões. Logo de início, alerta-nos de que não pode ser o dinheiro a comandar a nossa vida; em contrapartida, sugere que escolhamos os valores duradouros e eternos: os valores do Reino, os valores de Deus. A primeira leitura (Am 8,4-7) traz-nos a palavra de Amós, o profeta da justiça social. Dirigindo-se aos comerciantes sem escrúpulos, decididos a “espezinhar os pobres” e a “eliminar os humildes da terra”, Amós avisa: “Deus não esquecerá nenhuma das vossas obras”. A injustiça, a exploração dos pobres, a humilhação dos fracos, a manipulação da verdade e a escravização dos irmãos representam a completa subversão do projeto de Deus para o mundo e para a humanidade. Os que escolhem tais caminhos terão de prestar contas a Deus das opções que fizeram. ...

25º Domingo do Tempo Comum Prestemos contas dos dons que Deus nos Deus!

Queridos irmãos e irmãs, neste 25º Domingo do Tempo Comum, a liturgia nos coloca diante de um forte apelo à justiça, à oração e à fidelidade a Deus. O profeta Amós, na primeira leitura (Am 8,4-7), denuncia os que exploram os pobres e manipulam as medidas para enriquecer de maneira desonesta. Ele anuncia em nome do Senhor: “Escutai, vós que maltratais os humildes e causais a ruína dos pobres da terra… diminuís as medidas, aumentais o preço e usais balanças enganosas”. E conclui com uma advertência solene: “O Senhor jurou pelo orgulho de Jacó: jamais esquecerei o que eles fizeram”. A Palavra deixa claro que não há piedade para a injustiça social e para a ganância que destrói vidas. A voz de Amós ecoa em nossos dias, quando vemos tantos pobres ainda esmagados pela lógica do lucro e pelo desrespeito à dignidade humana. O salmo responsorial (Sl 112/113) nos recorda que Deus não é indiferente: “Louvai o Senhor, que ergue da poeira o indigente e do lixo retira o pobre para fazê-...

A Cruz, trono da vitória e sinal do amor de Deus

  Irmãos e irmãs, neste domingo celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, mistério central da nossa fé, pois nela se revela ao mesmo tempo a dor da humanidade ferida pelo pecado e a grandeza do amor de Deus que salva. Ao olhar para a cruz, não contemplamos apenas um instrumento de suplício, mas o trono da glória de Cristo e o sinal da vitória sobre o mal e a morte. Na primeira leitura, do livro dos Números (Nm 21,4-9), vemos o povo que, no deserto, impaciente e desconfiado, murmurava contra Deus e contra Moisés. Por causa de sua rebeldia, foram atingidos pelas serpentes venenosas, mas o Senhor, em sua misericórdia, indicou um remédio: levantar uma serpente de bronze, para que todo aquele que a olhasse fosse salvo. Esse episódio já apontava para o mistério de Cristo: assim como a serpente foi levantada no deserto, também o Filho do Homem seria levantado na cruz, tornando-se fonte de vida para todos que n’Ele crerem. O salmo responsorial (Sl 77/78) recorda a infide...

A cruz é sinal de nossa redenção!

Celebramos, precisamente no dia 14 de setembro, a Festa da Exaltação da Santa Cruz. No séc. II o imperador Adriano (117-138), para dissuadir o culto cristão em Jerusalém, soterrou o local onde Jesus tinha sido crucificado e sepultado. No local do Santo Sepulcro, colocou a estátua de Júpiter; no local da crucifixão de Jesus, erigiu uma estátua em honra de Vénus. Os cristãos, contudo, continuaram a frequentar esses lugares, aí evocando a morte e a ressurreição de Jesus. Mais tarde, em 13 de setembro de 326, Santa Helena, mãe do imperador Constantino, por indicação de um habitante de Jerusalém, descobriu no local do Calvário o madeiro da cruz onde Jesus tinha sido crucificado. Demolidas as construções pagãs erigidas por Adriano, foi construída uma basílica cristã, cuja dedicação aconteceu em 13 de setembro de 335. No dia a seguir, 14 de setembro, a cruz lá encontrada foi exposta à adoração dos fiéis. É este fato que está na origem da chamada Festa da Exaltação da Santa Cruz....

Santos para o nosso tempo

 Queridos irmãos e irmãs, Neste ano de 2025, a Igreja celebra um evento de grande alegria: a canonização de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, proclamados santos pelo Papa Leão XIV no dia 7 de setembro. Esta cerimônia nos convida a refletir sobre a santidade contemporânea, sobre a força da juventude e sobre o compromisso de cada cristão em testemunhar a fé de forma concreta no mundo de hoje. Carlo Acutis (1991–2006) é exemplo vivo de como a santidade se manifesta mesmo em idade jovem. Devoto da Eucaristia, dizia que ela era a “estrada para o Céu” e, com criatividade, usou a tecnologia para evangelizar, organizando uma exposição digital sobre milagres eucarísticos que alcançou pessoas ao redor do mundo. Carlo nos lembra que a fé não é uma prática distante ou abstrata, mas algo que pode ser vivido no cotidiano, nos estudos, nas amizades e no uso de nossos talentos para servir a Deus e ao próximo. Pier Giorgio Frassati (1901–1925), por sua vez, nasceu em Turim e se de...

Independência do Brasil: sob o manto de Nossa Senhora, construir a concórdia

Celebrar a Independência do Brasil, neste 7 de setembro, é mais do que recordar um fato histórico que deu origem a nossa autonomia política. É reconhecer que somos um povo chamado a caminhar juntos, como irmãos e irmãs, na construção de um projeto comum de nação. O “grito do Ipiranga” ecoa até hoje como símbolo de liberdade, mas não pode se reduzir a uma lembrança distante. Ele precisa renovar em cada brasileiro a consciência de que independência é responsabilidade, serviço, cuidado com a vida e compromisso com a justiça. A Sagrada Escritura nos recorda que a verdadeira liberdade vem de Deus. O povo de Israel experimentou isso quando foi libertado da escravidão do Egito: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20,2). A independência do Brasil também precisa ser vista como dom e tarefa. Dom porque a vida e a história são graças de Deus; tarefa porque somos chamados a transformar essa liberdade em justiça social, fraternidade ...

Livres e desapegados de tudo e de todos para seguir e anunciar o Senhor Ressuscitado!

Nas leituras que a liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum nos propõe, sobressai a temática do “caminho”: a nossa vida é um caminho, nem sempre linear, nem sempre fácil, que nos leva até a meta final da nossa existência, a vida verdadeira e eterna. O que devemos fazer e que precauções devemos tomar para não nos desviarmos e falharmos o alvo? Quem nos conduzirá e nos apontará a direção certa? Na primeira leitura (Sb 9,13-18), um “sábio” de Israel reflete sobre as limitações inerentes à nossa condição de seres humanos. O autor sagrado reconhece a fragilidade dos pensamentos e das reflexões dos mortais, o que revela a necessidade da sabedoria divina para conhecer e discernir os desígnios do Senhor. Ele acredita que a única forma de chegarmos à vida verdadeira é acolhermos a “sabedoria” de Deus e deixarmo-nos guiar por ela. Esse é o caminho que ele sugere a todos aqueles que se preocupam em construir uma vida plena de sentido. Iluminados pela sabedoria de Deus, saberemos o ...

Deixemos tudo para seguir a Jesus!

Irmãos e irmãs, A liturgia deste domingo nos convida a refletir sobre o caminho do discipulado, sobre a seriedade de seguir Jesus. Não se trata de um convite superficial, mas de uma decisão que pede entrega, coragem e discernimento. Na primeira leitura, ouvimos a pergunta do Livro da Sabedoria: “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Quem pode imaginar o que o Senhor quer?” (Sb 9,13). O texto recorda nossa limitação diante da grandeza divina. Muitas vezes, nos deixamos prender pelas preocupações passageiras e terrenas, que “pesam sobre nossa alma” (cf. Sb 9,15). Mas o autor nos recorda que é o Espírito Santo quem ilumina nossas escolhas: “Assim os homens foram instruídos no que te agrada, e pela sabedoria foram salvos” (Sb 9,18). Sem a ajuda de Deus, não conseguimos discernir o caminho certo. O Salmo 89 prolonga essa súplica e nos ensina a rezar: “Ensinai-nos a contar os nossos dias, e dai ao nosso coração sabedoria” (Sl 89,12). Essa oração é um pedido par...

Mês da Bíblia 2025: A Palavra que sustenta nossa esperança

Chegamos a mais um mês de setembro, tempo especial para a Igreja no Brasil. Desde 1971, este mês se tornou ocasião privilegiada para aprofundarmos nosso amor pela Sagrada Escritura, promovendo em nossas comunidades momentos de estudo, oração e celebração em torno da Palavra de Deus. O chamado “Mês da Bíblia” nasceu para aproximar ainda mais o povo da Palavra, ajudando cada cristão a perceber que a Bíblia não é um livro distante, mas fonte de vida e alimento para a caminhada. Em 2025, nosso olhar se volta para a Carta aos Romanos, obra profunda do apóstolo Paulo e uma das expressões mais ricas da fé cristã primitiva. O lema escolhido — “A esperança não decepciona” (Rm 5,5) — nos coloca diante de uma verdade que atravessa os séculos e chega até nós com força renovada. É o Espírito Santo, derramando o amor de Deus em nossos corações, que faz com que possamos esperar sem medo de ser enganados. Quando falamos de esperança, não nos referimos a uma ilusão ou a um simples desejo ...